quinta-feira, 13 de setembro de 2018

“Quem cala, consente”

Significado: O silêncio equivale a anuência, ao consentimento.

Falar sozinho nunca foi um problema. É um estado de maluqueira constante que adoro porque nunca discordo de mim. Nunca é provavelmente um exagero. Lembro-me daquela vez em que surgiu aquela dúvida quase-existencial e se a memória não me falha a questão, por sinal bastante pertinente, era esta: “Se o óleo de milho é feito de milho, e o óleo vegetal é feito de vegetais, do que é feito o óleo de bebé?” O mais impressionante foi a celeridade e prontidão com que tentei soluciona-la, porque mal a ouvi, respondi-me logo: “Não sejas estúpido! Que raio de pergunta é essa? Será que não sabes que o óleo de milho também é de origem vegetal? Mas relativamente ao óleo de bebé não deixa de ser uma boa pergunta....” A verdade é que ainda hoje não tenho resposta para isso. Quando falo disso comigo mesmo, não consigo calar. Se me calasse, estaria a consentir. Certo?

Eu pensava que sim, mas só recentemente é que percebi que a expressão “quem cala, consente” não é assim tão linear como eu pensava. Principalmente com as mulheres. Já apanhei umas quantas bofetadas a custa disso e sem perceber porquê. Sempre que ia a discoteca, perguntava-lhes se as podia apalpa-la e como não respondia, pensava que era uma sim. Pensava mal. O pior é quando os namorados viam a cena e vindos de não sei onde tinham a amabilidade de me espancar. Eu não tenho culpa. Não fui eu que inventei o raio da expressão.

Mas que o meu maior desgosto aconteceu depois de ter convidado a Rita para beber um café. Eu fui, mas ela nunca apareceu. Como não só perito em linguística, mas gosto de ter a certeza daquilo que digo, fui confirmar a biblioteca e “quem cala, consente” significa que a não resposta é, grosso-modo, um sim. Na completa incompreensão pelo transtorno afectivo motivado por afastamento, ou simplesmente tampa, da Rita, fui ter com o Bruno em busca de uma explicação plausível e de uma justificação para o sucedido.

- “Nunca vais acreditar no que me aconteceu! Não é que convidei a Rita para beber café ela não apareceu!”
- “Não apareceu? Estranho! Ela não nunca me fez isso!”
- “Não apareceu! Ainda pensei que ela tivesse só atrasada, sabes como são as mulheres, mas depois de 3 dias e 15horas a espera dela…comecei a desconfiar!”
- “Como assim nunca te fez isso?”
- “E não lhe ligaste para saber o que se passava?
- “Eu não!”
- “Não!? Então porquê?”
- “Não tenho o número dela!”
- “Não tens o número? Mas eu tenho, porque não me o pediste?”
- “Como é que podia saber que tens o número?”
- “Há uma coisa que não percebo, se não tens o número como é que a convidaste?”
- “Como toda a gente faz! Pelo Facebook!”
- “E ela respondeu?”
- “Nem por isso! Não falamos com frequência. E quando o fazemos, é mais do tipo monólogo. Deve estar sempre muito ocupada! Ainda ontem meti conversa com ela e…”
- “Por acaso ontem falei muito com ela e até fomos beber café. Eu acho estranho nunca ter comentado o teu convite.”
- “…e não me disse nada”
- “Explica-me porque pensaste que ela beber café contigo.”
- “Porque fiz o convite e apareceu aquela cena do visto e como ela não disse nada e como quem cala consente, pensava que era uma confirmação!”


Maldita língua portuguesa! Lá estou a falar sozinho! Mais uma vez! Devo ser maluco, e pelo meu silêncio, estou a concordar.

O Cronista da Parvoíce © 2018

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