quinta-feira, 13 de setembro de 2018

O Álcool: Uma Tremenda Fonte de Inspiração

A incoerência faz parte da minha vida e acontece muito na minha escrita. É frequente escrever coisas sem sentido. O meu carro tem dores nas mãos. Ontem comi uma coxa de peixe ao almoço. Não são frases coerentes. A minha mãe chama-se Emanuel. Também é uma frase incoerente. Não digo isto porque não era bom. Repeti três vezes. Mas porque uma coxa de peixe não pode ter dores nas mãos. E Emanuel é nome de um quarentão, quando a minha mãe tem cinquenta e sete anos. Ela tem um sobrinho, o meu primo, com mais de quarenta anos, mas ele chama-se Dinis. Também tenho um primo chamado Emanuel, mas esse sequer tem trinta anos, nunca pode ser considerado quarentão. Estão a ver as incoerências?

Podem duvidar, mas se vos disser que tudo que escrevo, fá-lo sob o efeito do álcool. Acreditam? Este texto é não foge a regra. Apenas um alerta. Eu não bebo para ter inspiração, mas é uma tremenda ajuda. Para além que não sou assim tão dependente da escrita. Não preciso disso para me embebedar. E a escrita é muito menos perigosa que o álcool. Com este último podemos tornar-nos maus, sendo por vezes deixa-nos felizes ou tristes. Mas em regra geral deixa-nos doentes. O que pode ficar confuso se o gajo feliz ficar triste por vomitar em cima do gajo mau.

Confesso que não é só a minha escrita que fica afectada pela alcoolemia. O meu discurso também. Quando chego a casa, depois de uma noite bem regada, digo algo fofo a minha namorada. Algo como: “Estás tão bonita! Será que é por estares mais desfocada?” E depois lembro-me que não tenho namorada e a vizinha não gosta desse tipo de piropos. Sempre que me engano na casa, ela está a minha espera com uma vassoura na mão e eu pergunto-lhe sempre: “Já varreste ou vais voar!?” e ela fica chateada. Não percebo. Já não há espírito da vizinhança. Quando chego a esse ponto, ao ponto de entrar na casa errada, dizem que é por causa do famoso último copo. Mas eu não concordo. Existem dois copos que temos de evitar imperativamente: o copo de transição e aquele que chamo de vigésimo quatro copo.

O copo de transição é aquele copo que está no limiar da resistência e que te transporta irremediavelmente para um estado lamentável. Sabes no fundo do teu âmago que é um bilhete sem retorno para o mundo das tristes figuras e da ressaca futura. O que faço quando ele aparece? Falo com ele olhos nos olhos e digo-lhe: “Não vale a pena olhares assim para mim! Não te safas com olhinhos! Não te vou beber!” E logo depois mando-o para o chão e peço outro. O vigésimo quarto copo é tramado porque fico chato e começo a melgar, ou mesmo incomodar as gajas boas. Sim! Só as gajas boas! Para falar com as feias só com trigésimo oitavo copo, mas costumo entrar em coma antes disso.

A minha artisticidade e a minha alcoolicidade são duas faces da mesma moeda: o meu egocentrismo. Confesso. Sou egocêntrico, gosto quando o mundo gira à minha volta. Mas também sou muito corajoso. Existe um adágio que o confirma: “O vinho (álcool) é o maior inimigo do Homem! Mas virar costas ao inimigo é cobardia…

Lembrei-me agora que tenho umas quantas coisas para escrever. Acho que vou beber um copo.

O Cronista da Parvoíce © 2018

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