sexta-feira, 20 de abril de 2018

A Subserviência Televisiva

Desafio da Carla Fernandes

Ponto de Partida: A domesticação do ser-humano através da televisão

Estava descansadinho no meu sofá quando aconteceu o impensável. A minha televisão avariou. É provável que muitos discordaram de mim, mas a televisão é a melhor invenção de sempre. Melhor que as vacinas ou mesmo a roda. Eu sei que as rodas dão jeito para os carros, mas como nunca saio de perto da televisão, nunca precisei. A única coisa que tive com o conceito de roda, foi um cadeirão. Ele não tinha rodas, mas andava à roda e não gostei muito. Enjoo com facilidade e o pior é que sempre dava uma voltinha perdi minutos televisivos preciosos.

O incrível foi o que aconteceu poucos minutos depois da avaria. Uma espécie de milagre aconteceu. Saí do sofá e dei os meus primeiros passos. A medida que dava mais passos, crescia em mim uma vontade aventureira. E descobri que a minha casa tinha mais divisões. Divisões em estavam pessoas diferentes. Numa delas estava aquele miúdo irritante que nunca me deixa ver os filmes sossegado. Achei estranho ele chamar-me pai, mas o mais curioso foi quando aquela senhora simpática me chamou querido. Tudo bem que me traz cervejas quando vejo a bola e trata das refeições, mas alto lá a confiança.

Depois da visita domiciliaria, decidi passear e ir para a rua. Ao sair de casa, o meu vizinho, e eu nem sabia que tinha vizinhos, fez me uma pergunta complexa. “Bom dia Vizinho! Hoje vai estar um lindo dia! Não acha?” Não sabendo como responder, sem poder ver a meteorologia era uma questão difícil, optei pela escolha mais segura. Usei o telefonema para um amigo. Pouco depois vi um rapazito na rua. Ele estava a tocar e a cantar, mas sem cadeiras a viram-se, como saber se ele é bom? Mesmo assim, disse lhe que iria ligar para que ele fique. Sabiam que há homens que pagam para dormirem com mulheres? Descobri isso durante o meu périplo. Será que eles nunca ouviram falar da Casa dos Segredos?

Aquele passeio foi interessante, mas preferindo o meu sofá, decidi ir comprar uma televisão nova. Confesso que não gostei muito do atendimento. Como bom cliente que sou, levei umas chouriças e outros enchidos da minha terra, e nem um “espectáculo” ouvi. Pior ainda. Acertei no preço da TV e mesmo assim tive de paga-la. E no final nem roda para girar, ou montra gigante para acertar. Por isso voltei para o meu sofá, mas por pouco tempo. O comando não tinha pilhas. De regresso a rua, encontrei o meu vizinho e as suas perguntas parvas. “Bom dia vizinho! Acha que hoje vai chover?” Depois de minutos de reflexão, usei a opção dos 50/50.

Por vezes, acho que tenho uma espécie de subserviência televisiva, é como se estivesse domesticado pela televisão. Não me parece! Farto-me de ver o Dr Phil e ele nunca falou disso, ou que isso possa acontecer. Nunca vi nenhum programa televisivo com essa temática, por isso só pode ser mentira. A televisão nunca me enganaria.

O Cronista da Parvoíce © 2018

domingo, 1 de abril de 2018

Os Misteriosos Ovos da Páscoa

Durante a infância ouvimos histórias com personagens são tanto extraordinárias como
misteriosas. Longe de mim pôr em causa, as suas existências, mas desconfio que suas histórias estão muito mal contadas, com muitas lacunas por preencher, e com fortes indícios de muita javardice oculta no meio disto tudo. Alguém me consegue explicar os gostos estranhíssimos da Fada dos Dentes? Qual é verdadeira razão do Pai Natal distribuir tantas prendas? E qual é a do Coelhinho da Páscoa? O que leva um roedor a distribuir ovos pintados? Qual é mistério por trás dos ovos da Páscoa?

Nunca ninguém achou esquisita aquela tara pelos dentes? O que a Fada faz com os dentes? Onde é que elas os enfia? Isto tudo cheira a prostituição dentária. Ela paga para tê-los. Tudo bem que gostos são gostos, e não se discutam, mas aquele fetiche dentário é um pouco assustador. Não?

O São Nicolau existe de facto, já foi visto pela Láponia, e é indesmentível que os presentes são distribuídos todos os natais. Mas como surgiu essa tradição? Cá para mim o Sô Nicolau andava a dar facadas no casamento, e acabou por ter filhos bastardos espalhados pelo mundo. Não querendo ser um mau pai, elaborou um plano engenhoso para poder oferecer um presente aos filhos, sem que a esposa desconfiasse. Num instante o São Nicolau passou a ser o Pai Natal. Nunca achou estranho ser o “PAI” Natal? Porquê essa designação parental? Alguma vez ouvi falar dos filhos? Ele continua provavelmente nas suas actividades extra-curriculares e curiosamente o Natal também. Já pensaste que podes ter um pai famoso? Com a chegada do Domingo de Páscoa não consigo deixar de pensar no Coelhinho da Páscoa e na sua estranha ligação aos ovos de Páscoa. O que leva um coelho a distribuir ovos pintados? Outra coisa que me intriga particularmente é saber onde ele arranjou os ovos?

Tal como os seus comparsas de encantar, o Coelhinho da Páscoa sofre de um seríssimo desvio sexual. É um tarado e por sinal infiel. Os coelhos são por natureza polígamos, mas este, farto de relações estritas, decidiu arrastar a asa para outros lados. E assim enveredou para uma relacção, porca e badalhoca, mas totalmente contranatura com aves. O problema é que nenhum animal está autorizado a procriar fora da sua espécie. Para desviar as atenções alheias da sua vida de alegre e delirante concubinato, arranjou um esquema brilhante e começou a distribuir a sua prole, os ovos do crime. Mas não sem antes os embelezar dando-lhes um aspecto decorativo e insuspeito. E assim, nasceram os ovos da Páscoa.

Eu sei que são apenas teorias, mas têm todas um fundo de verdade e parecem-me extramamente plausíveis. E também sei que devo parar urgentemente com o consumo massivo do chocolate. Tenho ideia que o cacau tem uma espécie de efeito estupefaciente para minha mente. E o pior é que o facto comer tanto chocolate os meus dentes vão cair e a outra tarada vai ficar com eles.

O Cronista da Parvoíce © 2018

Abril e Maio: Os Meses dos Desafios