segunda-feira, 24 de setembro de 2018

A Parvoíce Segundeira #4


A Importância do Piaçaba na nossa Sociedade


Desafio do Nuno Pereira

No limiar das nossas forças, e em situações de grande dificuldade, surgem sempre grandes ideias. Muito por influência do que nos rodeia. Uma revista no chão. Um rolo de papel higiénico. O bidé. E mesmo aquela estranhíssima escova de dentes gigante: o piaçaba. Confesso que sempre achei o Feng Shui sanitário muito inspirador. A casa de banho possui um incrível poder. Consegue retirar o melhor e o pior que há em mim. E sempre quando estou sentado na sanita.

Nos momentos de grande concentração, patrocinados pelo meu drunfo intestinal, várias questões de importância capital assolam a minha mente. Será que as pessoas cegas conseguem ver os seus sonhos? Será que as agulhas para as injecções letais dos condenados à morte são esterilizadas? Será que o papel higiénico vai chegar? É incrível nas merdas em que uma pessoa pensa enquanto caga.

Num desses grandes momentos de reflexão, comecei a olhar para o piaçaba doutra forma, e percebi o quão é importante numa sociedade moderna. Muitos consideram o seu valor discutível, e menosprezam a sua utilidade. Estes habilidosos do sem-espinha são indiferentes a terrível crise identitária que ele sofre. Verdadeiro Patinho Feio das casas de banho é gigante no mundo das escovas-de-dente e anão no reino das vassouras.

Mas na verdade, o piaçaba é mais que um utensílio sanitário, é a ferramenta primordial para a nossa sobrevivência social. A sua importância transcende a sua existência física. A sua essência metafórica é o espelho do nosso comportamento em sociedade. As nossas vidas estão repletas de excrementos sociais. Porcaria que fizemos, voluntaria ou involuntariamente, e da qual nos libertamos, nos limpamos. O piaçaba social intervém nestas situações, nos momentos em devemos proteger os que nos rodeiam. Evitar os danos “culaterais”.

Por norma, eu não gosto de usar as casas de banho dos outros. Quando o faço acontece sempre desgraças. Lembro-me de uma vez em que o piaçaba salvou a minha vida social e sexual. Nesse dia tinha ido jantar a casa da Joana, e sabia que o desfecho da noite só poderia ser um. Era noite de espalhar magia, entre outras coisas. Ela estava na cozinha quando senti a tragédia bater a porta. Eram gases, mas não só. Uma verdadeira “cocótástrofe”. Tentando libertar-me dessa trovoada intestinal, fui a correr para a casa de banho. Maldito cozido da véspera. E depois de alguns minutos de esforços imensos, ganhei finalmente a luta contra a minha barriga. E num gesto vitorioso, como que mandando foguetes, puxei o autoclismo.

Mas infelizmente, tinha cantado vitória cedo demais. No fundo da sanita, permanecia o esforço dos minutos anteriores, o cocó rebelde. Estupefacto puxei novamente o autoclismo. Mas incrivelmente, e num esforço quase sobre-humano, o meu cocó resistia no turbilhão da sanita. Ele parecia insubmersível. Nunca vira um assim. Uma verdadeira força da natureza. Ao menos tempo, estava à espera de quê? É meu. Num ato de desespero, puxo novamente o autoclismo, e digo adeus ao meu bravo cocó com um misto de alívio e tristeza. Mas não fora embora sem lutar, e deixara as marcas da sua resistência na sanita. Felizmente, havia uma piaçaba por perto e eliminei as provas do crime.

Logo depois fui ter com a Joana, e disse-lhe que deveria chamar um canalizador para arranjar a casa de banho. É inadmissível ser preciso puxar 3 vezes o autoclismo por causa de uma mijadinha de nada. Nessa noite, o piaçaba salvou-me a noite e verifiquei que é realmente o instrumento ultimo para sobrevivência social.

O Cronista da Parvoíce ©

E se Ele é Feio?


Aviso: Está prestes a ler um texto com Humor Negro. O conteúdo do mesmo poderá chocar os mais sensíveis.

Ganhei recentemente o medo parental, vivo apavorado com a ideia de um dia poder ser pai. Não interpretem mal! Eu gosto de crianças e também não duvido das minhas futuras capacidades paternas. Mas se ele é feio? O que é que faço com ele? É que se fosse muito burro, ele teria sempre um futuro no desporto, na portaria de discotecas ou até em Reality Shows. Mas se ele é feio? Qual é o meu futuro perante a paternidade? Fujo? Nego que é o meu filho?

Não consigo imaginar qual seria a minha reacção ao vê-lo pela primeira vez: “Olá… Fi… Ficou alguma coisa dentro da minha mulher? Parece que faltam Peças… A sério?! O que é isto?” Imagino o Doutor a tentar descansar-me: “Está a vê-lo ao contrário”. E eu aliviado e olhando vou sentido correto: “Ahhh! Fico mais descansado!... Afinal não…. É mais bonito ao contrário! Agora a sério! Onde está o verdadeiro? É mesmo este? Não dá para devolver? Está novinho em folha! Não tenho quinze dias para isso?” E o que dizer a minha esposa quando me perguntasse o que acho do bebé: “Então nosso filho? É lindo?” Sem saber muito bem o que responder diria: “Humm… Mais ou menos… Como dizê-lo… Humm…. Lembraste aquele doce que fizeste para o meu aniversário? Aquele que estava com bom aspecto, o teu filho…” Ao que ela diria: “O nosso!” E eu, com uma prontidão incrível, responderia: “Pois… Não consigo ver as parecenças! De certeza que nunca me enganaste? Não há problema! Não fico nada chateado. Voltando ao doce, lembraste como ele ficou depois de ter caído ao chão? O bebé está igual!”

Se todos os bebés são lindos, estou sinceramente preocupado com o futuro deste. Dizem que bebés feios podem vir a ficarem bonito. Mas quando? De certeza que entraria todas manhãs no quarto do rebento com a esperança da magia ter acontecido. “Olá… Fogo… Ainda não foi desta!”

E se um dia, ele vira-se para mim e pergunta-me se o acho bonito, o que faço? Minto? Digo a verdade? Claro que digo a verdade. -“Diz-me papá! Sou bonito?”-“Humm… Não! Mas tens o sentido de humor!”-“Gostas de mim na mesma?” –“Humm... Não! Humm... Gosto... Mas não tanto como se não fosses tão feio! Vá la brincar… Pega na bola e vai jogar para o cruzamento! –“Mas é perigoso!” – “Naõ é nada, desde que vás para estrada quando estiver verde para os carros, correrá tudo bem… para mim!”

Como mais vale prevenir que remediar e evitar esse tipo de situações delicadas, decidi tomar uma decisão drástica. Todos dias faço uma vasectomia manual, a chamada a masturbação preventiva. Tenho a perfeita noção do meu charme e sei que qualquer aproximação feminina pode terminar em procriação. Portanto, e sempre que posso masturbo-me. Masturbo-me antes de levar o lixo. Masturbo-me antes de ir passear o cão. Masturbo-me por tudo e por nada! Assim não corro riscos desnecessários.

Tenho um encontro logo a noite, vou tomar um banhinho e claro… Mas antes tenho de tirar este saco da cabeça.

Darth Parvor ©

As Qualidades Oculares Femininas: Uma Espécie de Ode ao Olhos da Ana

Desafio do Bruno Ferreira
Palavras Impostas: Vesícula, retro-escavadora, traineira e pancreatite
Género Humorístico: Absurdo

É mais forte que nós. Direi mesmo que é uma questão genética. Ou até de sobrevivência. Um homem que não olha para uma mulher não é homem. “Ao dizer isso estás a ser homofóbico!” Nada disso! No momento do avistamento feminino, os intentos masculinos não são obrigatoriamente erótico-badalhocos. Pensando bem! São quase sempre! Mas há quem esteja a vislumbrar uma mulher para uma apreciação de moda. Esta categoria de analista é bem menor. Há muitos mais javardos por aí.

Como homem tem a obrigação moral de olhar para as mulheres a todo o momento. O problema é quando alguém surge, a namorada, para nos impedir e limitar o nosso campo de observância. Por isso, e durante toda a minha viva tenho vivido com o pânico de um dia, um dos meus relacionamentos resultar. Não vos passa pela cabeça como é preocupante, estar na eminência de ser bem sucedido no amor. Não é que me dê mal com o compromisso. Mas o facto de alguém me estar constantemente a perguntar: “Estás a olhar para onde?”, assusta-me um pouco.

Sim, porque ela sabe perfeitamente para onde estou a olhar. Mesmo com a minha visão condicionada, não deixo de ter a capacidade de deslindar belezas estrondosas que o destino colocou muito amigavelmente no meu caminho. Com os anos criei alguns subterfúgios. Sempre que passa uma beldade, eu simulo uma dor. A minha namorada fica aflita e vai pedir ajuda. E eu fico a olhar para elas. Da última vez queixei-me da vesicula e disse-lhe: “Sabes bem que tenho aquele problema na vesicula!” Ela ficou assustadíssima: “O problema do pâncreas está a afetar a vesicula?! É melhor ires ao hospital. Como também te queixas das amígdalas e dos rins é mais seguro fazeres uma ablação disso tudo”. Resultado: Acabei com ela! Mas fui operado na mesma! Não podia desperdiçar a oportunidade de observar enfermeiras diariamente!

Há dias, numa conversa com uma amiga, a Ana, ela fez uma estranha afirmação: “Já te topei a olhar para as gajas! És um autentico rebarbado!” Rebarbado!? Não gosto desse termo. Sou um observador nato! Isso sim! Mas observo qualquer coisa. Abstenho-me se a observação tiver alguma conotação marítima. Baleias, traineiras, isso não é para mim. Há demasiado para observar e processar e tudo que é em exagero é prejudicial a saúde! Em casos pontuais, e principalmente no verão, observo mais perto do mar. Mas limito-me ao areal. “E as sereias? Também são seres marítimos!” Já viram alguma? Eu nunca! E é um risco! Uma sereia pode ser metade mulher e metade baleia!

Quando olho para as mulheres, quando as observo, estou somente a procura das suas qualidades que estão muitas vezes dissimuladas por baixo de outras… personalidades. E nesse sentido, para melhorar essa mesma procura, é possível que me veja a circundar a observada. É um gesto meramente cientifico. É chamado “Método da Retroescavadora”. Quando era miúdo nunca sabia qual era a parte da frente da maquina, então, e para ter uma melhor perceção andava a volta dela. Fazendo uma análise mais completa. É o que estou a fazer quando ando a volta de uma jovem. Estou a observa-la e a ficar enjoado. Andar a roda deixa-me indisposto. Posso tomar medicação para essa indisposição, mas com a quantidade de mulheres que existem, teria de andar medicado constantemente. E não sou drogado. Se bem que isso é de homem (dizem alguns) e observar mulheres é para homens.

Voltando a conversa com a Ana, durante a mesma conversa ela perguntou-me a algo que me deixou quase sem resposta: “Quando olhas para mim, o que te atraí mais?” Respondi o que qualquer um teria respondido: “O teu par… de olhos… São lindíssimos!” E com tanto para elogiar, o facto de ter valorizado a sua parelha ocular foi bastante pertinente. Nem todas têm um par visual para ser elogiado.

Há mulheres com um olho. São difíceis de encontrar, mas existem. Podemos encontra-las na biblioteca, na secção mitológica, nos livros sobre ciclopes. Não gosto muito de falar com elas, acho que são surdas e tenho de gritar para me ouvirem. E na biblioteca não se pode fazer barulho. Ou são surdas ou armam-se em deusas. Falo com elas e nunca me respondem. As outras usam palas, vivem em alto mar e enveredaram por uma carreira na pirataria. Mas como enjoou facilmente e faço alergias aos papagaios nunca me envolvo com esse tipo de mulheres.

“Se os meus olhos são assim tão bonitos, explica-me porque é já te apanhei ao olhar para o meu peito?” Eu nunca olhei para o peito dela! E nem de outras! Pode ter acontecido uma olhar preocupado para a caixa torácica, mas só que parecia com problemas respiratórios. Ou porque o brilho dos teus olhos obrigou-me a olhar para baixo. Já sei o que vais perguntar o vais perguntar a seguir. Vais perguntar de que cor são os teus olhos. Isso interessa! A verdade é que os teus olhos, demasiados belos para serem visto por mero mortal me obrigam a contemplar outras partes do teu corpo. A culpa é dos teus olhos.

Já agora! De cor são eles?

O Cronista da Parvoíce ©

A Canícula Polar

Desafio de Wait aí uma beca 


Palavras Impostas: bidé, distribuidor, pónei, sacarose e xilofone

Nunca fui grande apreciador do mau tempo e tem uma explicação lógica e do foro desportivo. As intempéries obrigam-me a fazer algo que não gosto muito: correr. “Mas tu gostas de jogar a bola e no futebol tens de correr! Tenho se não poder ficar a mama e quando tenho de correr não faço. O meu pónei mental, o Faísca (ele tem um relâmpago e o numero 95 tatuado no lombo), é que cavalga até a bola. Essa é razão de por vezes não chegar a tempo de segurar o esférico. Monta-lo, verificar se está tudo ok para prosseguir a marcha… Enfim um processo demoroso.

A verdade é que padeço de canini spiritus, o chamado espírito canino, corro sempre atrás de algo, uma bola por exemplo. Antigamente perseguia os carteiros e alguns carros, mas deixei-me disso. A medicação também ajudou. Também corria atrás das moças até aquela ordem do tribunal e o encontro com o punho daquele namorado furioso. O gajo era um autentico distribuidor de socos.

“Mas qual é a relação do mau tempo com a corrida?” Calma, estou quase a chegar ao ponto. O Faísca está ocupado e tenho de ir por mim mesmo. É agora! Já cheguei! Quando chove corro para me abrigar e quando está frio corro para me aquecer. Simples?! O único senão é que sempre que faço esse tipo de fuga climatérica tenho de ingerir sacarose liquidificada (água com açúcar). E como não estou habituado a correr fico com tontura depois. “Porque é que não montas o Faísca?” há um pormenor que talvez vos escapou: o meu cavalo anão é imaginário! Fazer perguntas sobre algo que não existe! Faz algum sentido? O problema é que o meu fiel mini corcel está sempre a comer e tanto esforço físico pode provocar-lhe uma congestão. Para alem que só gosta de andar ao sol. É como eu. Dê-me sol e fico contente.

O sol traz-me felicidade por vários motivos, mas o principal é a influência determinante que ele tem sobre a indumentária feminina. Quanto mais sol, menos roupa. E nem é preciso estar muito calor, bastam uns raios solares mais visíveis e o objetivo primário dos homens, despi-las mentalmente, está facilitado. Sendo que é dificílimo desnudar alguém que está protegido aproximadamente por sete peças de vestuário. Sim! Eu contei! Esse
desnudamento nem sempre corre bem. Tento ser discreto, mas a discrição torna-se difícil quando somos apanhados. Eu tenho um problema, entre inúmeros outros, sempre que estou a despir alguém, literal ou figuradamente, toco xilofone. Não consigo evitar.

Mesmo sendo um fervoroso opositor do frio, e ultimamente tem estado um verdadeiro calor soviético, uma canícula polar, só pactuo com esse abaixamento de temperatura quando faz com que algumas senhoras permanecem totalmente tapadas. Eu sei que La Bruyère disse: “não existem mulheres feias, só existem aquelas que não sabem fazer-se belas”, mesmo assim para esses B.I.D.É.s, mulheres com Beleza Interior Demasiado Évidente (évidente = quando é mais que evidente e até de uma forma exagerada), e no intuito de poupar os olhos sensíveis (e farto de despir lindas damas), a canícula polar deveria reinar por muito tempo.

Afinal não! Gosto mais de calor! Volta Sol! Estás perdoado!

O Cronista da Parvoeira ©

A Intempérie Potente

Premissa: O que define uma verdadeira tempestade? 

Palavras Impostas: Cabra, tractor, Ferrari, chocolate e esquentador. 

Palavras Proibidas: vento, frio, neve, temporal e soprar. 

Eu nunca gostei do mau tempo. Ninguém gosta de do mau tempo. É para mim uma verda
de absoluta. Como é que posso afirmar isso? Fácil. “Não podes dizer isso, há quem não gosta de bom tempo!” Verdade. Há quem não aprecie muito o sol como os vampiros ou os góticos. Mas pensem comigo, se não são amantes dessa meteorologia, posso afirmar que, para eles o bom tempo, é na verdade mau tempo. Generalizando, qualquer condição atmosférica adversa a sua preferência, é de facto mau tempo. Impressionante com a minha capacidade raciocinativa? E o melhor é que tenho esses acessos de genialidade frequentemente. Para isso basta eu consumir, como dizê-lo de uma forma subtil, sem parecer que sou um drogado e/ou um alcoólico? Para quem não sabe este desafio foi proposto pela a minha mãe, por isso convém manter a ilusão do filho perfeito. Felizmente, não sou eu! Já sei! Basta eu consumir substâncias inspirativas, que são para o meu intelecto, o gás que faz funcionar o esquentador.

Sendo feito o esclarecimento sobre o conceito de mau tempo, que varia dependendo do apreço climatérico, é importante falar das verdadeiras intempéries, as chamadas tempestades, que são uma mixórdia de coisas bem desagradáveis. As tempestades são o pináculo das intempéries. É o Ferrari do mau tempo. Não tenho nada contra os Ferraris, tenho três ou quatro na estante. Não é por nada, mas acho que não teria mãos para aquilo. Pior. Se tempestade fosse ciclónica, nem teria pés, estaria a esvoaçar por aí. É por isso que em termos meteorológicos prefiro um Fiat Uno.

Uma tempestade é um clima “TRACTOR”, ou seja, um Tempo Realmente Abjecto Causador de Transtornos Objectivamente Ruinosos. porquê? Qualquer alteração climatérica que implica arrefecimento e/ou molha é nefasta para a masculinidade. Se for uma de grande escala, pior ainda. Como é sabido essas características climáticas não propícias para o enaltecimento masculino, bem pelo contrário, elas favorecem o minguamento dos atributos. Nunca se questionaram sobre o facto de a quantidade de roupa aumentar consoante o piorio do tempo. Pensavam que era coincidência? Os homens são uns mariquinhas! Não aguentam nada! É por isso? Coitadinhos! Têm medo de um pequeno esfriamento! É tudo falso! Se os homens se agasalham tanto é por uma causa maior e para que essa mesma causa não fique menor perante o arrefecimento.

Mais. Se estiverem atentos, repararam que mesmo perante adversidades climáticas, a maioria das mulheres tende a estar mais exposta, enquanto os homens não. E ainda bem! Não vou mentir, uma boa pernoca é sempre uma boa pernoca, de inverno ou de verão. Eu gostava de não sofrer perante as intempéries, o chamado encolhimento precoce. Seria uma mais valia para todos, mas principalmente para mim. Pouparia muito em vestuário. Poderia até não andar nu pela casa e pelas ruas da cidade. Não vamos exagerar. Andar pela casa despido acarreta riscos desnecessário. Tenho dois cães e nunca se sabe, a fome canina pode originar confusões involuntárias. Andar nu pelas ruas da cidade também está fora de questão, pelo menos enquanto a minha tablete de chocolate abdominal não estiver restabelecida. Neste momento está somente derretida. Seria catastrófico para a minha reputação, aliar uma minoração genitália e um derretimento abdominal.

Também sei que o mau tempo é necessário e uma peça fundamental no bom funcionamento dos ecossistemas, mas eu passo bem sem ele. É verdade que as mudanças climatéricas são importantes na sua preservação. Eu sei que alguns insectos prejudiciais ao desenvolvimento de algumas culturas são erradicados com o auxílio das baixas temperaturas (e este foi o momento BBC Vida Selvagem), mas como disse, o meu ecossistema está bem sem elas. A única bicharada que afecta o meu terreno orgânico, não contando com o caruncho biológico, é a cabra, mas a alcoólica. Eu não tenho nada contra o bicho em si. Agora a outra. Essa sim. Essa mexe com o meu ecossistema e consegue deixar-me indisposto.

Com isto tudo, não expliquei o que é uma verdadeira tempestade. E o que é? É mau tempo, mas mesmo mau, não aquele mau que é bom, porque o bom é mau para quem não gosta. Não sei porquê, mas acho que o clima está a afectar o meu raciocínio.

O Cronista da Parvoíce © 2018

J+2468= Rescaldo do Fim do Mundo

O 21 de Dezembro de 2012 foi marcado pelo Fim do Mundo, e eu distraído, não notei. Confesso que fiquei um pouco desiludido, tanto alarido e não aconteceu nada de relevo. Daí a distração. Estava à espera de terramotos, maremotos e outras coisas do género, mas volvidos 2469 dias depois desse tão esperado acontecimento, não vejo sinais de nada.

O Mundo era suposto acabar por volta das 11h, mas nunca acreditei nesse horário. Sou um grande amante de pirotecnia e de luminosidade artística, e todos os filmes catástrofes estão recheados desses efeitos visuais. Porquê? Porque as desgraças acontecem à noite, quando podem ser observadas com mais qualidades. Imagino-me perante explosões e erupções volcânicas. Sou mesmo capaz de tirar umas fotos.

Já devem estar todos consternados com o que disse. Primeiro, porque não há vulcões por cá. Eu sei! Mas se é um Fim do Mundo como deve ser, decerto que vão aparecer vulcões nos sítios mais inusitados. Segundo, porque na possibilidade de ocorrências catastróficas, devem achar estranho a minha capacidade fotográfica. Com tantos acontecimentos dramáticos, é provável haver cortes de eletricidade, e a minha maquina poderia estar sem bateria, mas relembro-os que já estava prevenido e fiz os devidos carregamentos. Para alem de que visto aquela luminosidade toda, posso poupar no flash.

No fundo eu sabia que os Maias estavam enganados. Como confiar num povo que previu o termino mundial, mas não consegui prever e defender se atempadamente dos invasores espanhóis? Também não gostei daquelas poucas vergonhas entre o Carlos e a Maria Eduarda! Não estão relacionados? Esses dois sim! Afinal são irmãos! Oups… Spoiler!

Para dizer a verdade, no fundo, no fundo sabia que o Mundo não acabava em 2012. O meu primo tinha uma lata que tinha validade até 2015! Querem mais provas que isso? Mesmo assim, quando tiver filhos, vou dizer-lhes orgulhosamente: “Estive lá e sobrevivi. O vosso Pai é o Maior!”

O Cronista da Parvoíce © 2018

A Parvoíce do Antes e Depois #12


quinta-feira, 13 de setembro de 2018

O Álcool: Uma Tremenda Fonte de Inspiração

A incoerência faz parte da minha vida e acontece muito na minha escrita. É frequente escrever coisas sem sentido. O meu carro tem dores nas mãos. Ontem comi uma coxa de peixe ao almoço. Não são frases coerentes. A minha mãe chama-se Emanuel. Também é uma frase incoerente. Não digo isto porque não era bom. Repeti três vezes. Mas porque uma coxa de peixe não pode ter dores nas mãos. E Emanuel é nome de um quarentão, quando a minha mãe tem cinquenta e sete anos. Ela tem um sobrinho, o meu primo, com mais de quarenta anos, mas ele chama-se Dinis. Também tenho um primo chamado Emanuel, mas esse sequer tem trinta anos, nunca pode ser considerado quarentão. Estão a ver as incoerências?

Podem duvidar, mas se vos disser que tudo que escrevo, fá-lo sob o efeito do álcool. Acreditam? Este texto é não foge a regra. Apenas um alerta. Eu não bebo para ter inspiração, mas é uma tremenda ajuda. Para além que não sou assim tão dependente da escrita. Não preciso disso para me embebedar. E a escrita é muito menos perigosa que o álcool. Com este último podemos tornar-nos maus, sendo por vezes deixa-nos felizes ou tristes. Mas em regra geral deixa-nos doentes. O que pode ficar confuso se o gajo feliz ficar triste por vomitar em cima do gajo mau.

Confesso que não é só a minha escrita que fica afectada pela alcoolemia. O meu discurso também. Quando chego a casa, depois de uma noite bem regada, digo algo fofo a minha namorada. Algo como: “Estás tão bonita! Será que é por estares mais desfocada?” E depois lembro-me que não tenho namorada e a vizinha não gosta desse tipo de piropos. Sempre que me engano na casa, ela está a minha espera com uma vassoura na mão e eu pergunto-lhe sempre: “Já varreste ou vais voar!?” e ela fica chateada. Não percebo. Já não há espírito da vizinhança. Quando chego a esse ponto, ao ponto de entrar na casa errada, dizem que é por causa do famoso último copo. Mas eu não concordo. Existem dois copos que temos de evitar imperativamente: o copo de transição e aquele que chamo de vigésimo quatro copo.

O copo de transição é aquele copo que está no limiar da resistência e que te transporta irremediavelmente para um estado lamentável. Sabes no fundo do teu âmago que é um bilhete sem retorno para o mundo das tristes figuras e da ressaca futura. O que faço quando ele aparece? Falo com ele olhos nos olhos e digo-lhe: “Não vale a pena olhares assim para mim! Não te safas com olhinhos! Não te vou beber!” E logo depois mando-o para o chão e peço outro. O vigésimo quarto copo é tramado porque fico chato e começo a melgar, ou mesmo incomodar as gajas boas. Sim! Só as gajas boas! Para falar com as feias só com trigésimo oitavo copo, mas costumo entrar em coma antes disso.

A minha artisticidade e a minha alcoolicidade são duas faces da mesma moeda: o meu egocentrismo. Confesso. Sou egocêntrico, gosto quando o mundo gira à minha volta. Mas também sou muito corajoso. Existe um adágio que o confirma: “O vinho (álcool) é o maior inimigo do Homem! Mas virar costas ao inimigo é cobardia…

Lembrei-me agora que tenho umas quantas coisas para escrever. Acho que vou beber um copo.

O Cronista da Parvoíce © 2018

“Quem cala, consente”

Significado: O silêncio equivale a anuência, ao consentimento.

Falar sozinho nunca foi um problema. É um estado de maluqueira constante que adoro porque nunca discordo de mim. Nunca é provavelmente um exagero. Lembro-me daquela vez em que surgiu aquela dúvida quase-existencial e se a memória não me falha a questão, por sinal bastante pertinente, era esta: “Se o óleo de milho é feito de milho, e o óleo vegetal é feito de vegetais, do que é feito o óleo de bebé?” O mais impressionante foi a celeridade e prontidão com que tentei soluciona-la, porque mal a ouvi, respondi-me logo: “Não sejas estúpido! Que raio de pergunta é essa? Será que não sabes que o óleo de milho também é de origem vegetal? Mas relativamente ao óleo de bebé não deixa de ser uma boa pergunta....” A verdade é que ainda hoje não tenho resposta para isso. Quando falo disso comigo mesmo, não consigo calar. Se me calasse, estaria a consentir. Certo?

Eu pensava que sim, mas só recentemente é que percebi que a expressão “quem cala, consente” não é assim tão linear como eu pensava. Principalmente com as mulheres. Já apanhei umas quantas bofetadas a custa disso e sem perceber porquê. Sempre que ia a discoteca, perguntava-lhes se as podia apalpa-la e como não respondia, pensava que era uma sim. Pensava mal. O pior é quando os namorados viam a cena e vindos de não sei onde tinham a amabilidade de me espancar. Eu não tenho culpa. Não fui eu que inventei o raio da expressão.

Mas que o meu maior desgosto aconteceu depois de ter convidado a Rita para beber um café. Eu fui, mas ela nunca apareceu. Como não só perito em linguística, mas gosto de ter a certeza daquilo que digo, fui confirmar a biblioteca e “quem cala, consente” significa que a não resposta é, grosso-modo, um sim. Na completa incompreensão pelo transtorno afectivo motivado por afastamento, ou simplesmente tampa, da Rita, fui ter com o Bruno em busca de uma explicação plausível e de uma justificação para o sucedido.

- “Nunca vais acreditar no que me aconteceu! Não é que convidei a Rita para beber café ela não apareceu!”
- “Não apareceu? Estranho! Ela não nunca me fez isso!”
- “Não apareceu! Ainda pensei que ela tivesse só atrasada, sabes como são as mulheres, mas depois de 3 dias e 15horas a espera dela…comecei a desconfiar!”
- “Como assim nunca te fez isso?”
- “E não lhe ligaste para saber o que se passava?
- “Eu não!”
- “Não!? Então porquê?”
- “Não tenho o número dela!”
- “Não tens o número? Mas eu tenho, porque não me o pediste?”
- “Como é que podia saber que tens o número?”
- “Há uma coisa que não percebo, se não tens o número como é que a convidaste?”
- “Como toda a gente faz! Pelo Facebook!”
- “E ela respondeu?”
- “Nem por isso! Não falamos com frequência. E quando o fazemos, é mais do tipo monólogo. Deve estar sempre muito ocupada! Ainda ontem meti conversa com ela e…”
- “Por acaso ontem falei muito com ela e até fomos beber café. Eu acho estranho nunca ter comentado o teu convite.”
- “…e não me disse nada”
- “Explica-me porque pensaste que ela beber café contigo.”
- “Porque fiz o convite e apareceu aquela cena do visto e como ela não disse nada e como quem cala consente, pensava que era uma confirmação!”


Maldita língua portuguesa! Lá estou a falar sozinho! Mais uma vez! Devo ser maluco, e pelo meu silêncio, estou a concordar.

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terça-feira, 11 de setembro de 2018

A Conversão Amistosa

Desafio do João Flor e Tiago Cabecinhas

Premissa: Como fazer amigos…

Palavras Impostas: Televisão, Smart Router, vagina, casa, tapete e orfeão.

Nunca te aconteceu parar e pensar na resolução dos maiores mistérios deste mundo? Questões tão pertinentes quão enigmáticas, tais como: Porque é que a palavra “grande” é menor do que a palavra “pequeno”? Porque é que quando na televisão vês filmes de batalha espaciais com explosões excessivamente barulhentas, se o som não se propaga no vácuo? Ou porque é que a água mineral que corre pelas montanhas durante séculos tem uma data para consumo? Ou até mesmo, porque é que as torradeiras têm sempre uma opção para uma temperatura tão alta que queima as torradas todas? Se já te aconteceu, tens de arranjar amigos e urgentemente. E quanto mais melhor! Sempre ouvi dizer que duas cabeças pensam melhor de que uma. Aposto que a vários vão encontrar as respostas que procuram. 

Eu também pensava muito nessas coisas, e passava muito tempo a discutir essas temáticas como o meu amigo João. A verdade é que as nossas tertúlias nunca foram muito produtivas, o gajo não falava muito. Mas quando era noites de bebedeiras não se calava. Pensando nisso, o gajo só aparecia quando eu estava embriagado ou depois de me aromatizar com fumos exóticos. Pior parecia que sabia sempre onde eu estava. Um verdadeiro stalker. Já não se fazem amigos imaginários como antigamente. Ainda tive o Tiago, grande amigo, mas curiosamente, depois de tomar frequentemente a medicação nunca mais o vi. É triste, basta tomar uns medicamentos da treta e, do nada, uma amizade é varrida por baixo do tapete. 

Eu sou um verdadeiro crente no que toca a amizade. Sempre que conheço alguém, mentalizo-me que aquela pessoa vai ser um amigo fantástico. Nesses encontros fortuitos, interiorizo uma palavra-chave, a minha palavra-chave que é uma espécie de guia amistosa. No aproximar de um potencial amigo, essa palavra mágica entoa na minha cabeça. Mas afinal qual é essa palavra? VAGINA. Para mim vagina é sinonimo de felicidade, como o deveria ser para qualquer pessoa, porque solto um vagina é porque “vou agora ganhar um(a) incrível novo(a) amigo(a)” (v.a.g.i.n.a.) e quanto mais quero ser amigo dessa pessoa, mais a uso, e por vezes em voz alta. Como se sofresse de uma Síndrome de tourette vagino-amistoso. Mas infelizmente, sou frequentemente mal interpretado pelos meus potenciais futuros amigos. Foi o que aconteceu com a Diana. Durante o nosso café, diga-se de passagem, que estranhei ela ter aceite o convite, disse vagina várias vezes, mas sem ela se aperceber. Só que o drama aconteceu, de tão contente que eu estava por estar a alicerçar um relacionamento amistoso duradouro, não consegui evitar o soltar de um "VAAAAGIIIINAAAA". Ela levantou-se e nunca mais a vi. Até hoje. Aproveito... Diana... Se estás a ler isto... Ainda me deves 65 cêntimos do café. 

Ainda hoje penso na Diana, e na falta que aqueles 65 cêntimos me fazem. Eu sei que não são nenhuma fortuna. Mas imaginem que aquilo acontece outra vez. Fico com um prejuízo de 1,30€. Eu sou muito amistoso, mas não posso andar aí a gastar dinheiro à toa. Tenho contas para pagar. A assinatura da Playboy não se vai pagar sozinha. A verdade é que aquilo aconteceu, fez-me perceber que a minha conversão amistosa não estava tão boa como pensava, e que tinha imperativamente de melhora-la. Se um simples vagina afugenta possíveis amigos, algo está mal. Foi por isso que procurei ajuda junto de quem percebe do assunto: o Wikipédia. Já agora um reparo aos Jeovás das Telecomunicações que vão de casa em casa a pregar a boa nova das internetes. Parem de enganar as pessoas com a essa coisa do smart router, é que o meu de esperteza não tem nada. Uma vez perguntei-lhe as horas e ele nem foi capaz de me responder. 

Sabes o que também pode ajudar na obtenção de amigos? Ser musicalmente instruído! Ou seja, saber tocar um instrumento, mas um de verdade. Uma viola, guitarra, saxofone, qualquer um. Menos aquela treta que tínhamos na escola. Como é que aquilo se chamava? Sempre que tocava, e tocar é uma palavra forte, morria um cão nas redondezas de tão mau e agudo era o som que produzia. Não me lembro mesmo do nome daquilo! Já sei! O famoso pífaro! Não! Aquilo tinha outro nome. Não tínhamos aulas de pífaro, eram aulas de… flauta de bisel. É isso! Já agora, tenho uma curiosidade. Aquilo servia mesmo para quê? Algum de vocês se tornou flautista de bisel profissional? Será que há aulas disso no orfeão? 

Na internet encontrei algumas dicas interessantes. Se fiz mais amigos? Não, mas agora sei que há coisas que não se podem fazer se queremos ter amigos. Tais como não falar sozinho! Porque se falas sozinho pareces um maluquinho e as pessoas não gostam de maluquinhos. Só se elas mesmo foram maluquinhas, mas as maluquinhas não precisam de amigos visto que falam sozinhas. E se falas sozinho não precisas de sair de casa. E se não sais de casa não precisas de amigos. A não ser que o teu melhor amigo seja um cão ou um gato…. Pensando melhor continuas a falar sozinho porque esses animais não falam. Se algum dia ouvires uma resposta, que não seja um ladrar ou um miar, aumenta a dose da medicação. 

O que ajuda realmente é falares com pessoas. Como aquela que está a passar neste preciso momento… “VAAAAGIIIINAAAA”… Onde é que vais? Não fujas! 

O Cronista da Parvoíce © 2018

sábado, 8 de setembro de 2018

A Taxidermia Exótica

Desafio do Tiago Pereira 

Premissa: Necrozoofilia 

Palavras Impostas: Buda, Jesus, Maomé e Satanás 

Género Humorístico: Humor Negro 

Aviso: Estás prestes a ler um texto com Humor Negro. O conteúdo do mesmo poderá chocar os mais sensíveis. 

Nunca achei que ser popular era algo importante. Daí a minha popularidade não estar no auge junto da minha vizinhança. Mas vivo bem com isso, os meus vizinhos é que não. Matei-os todos. Porquê? Alguns diziam que chamavam antipático, e outros, insensível. É tudo mentira! Sou, nem pouco, nem muito, mas bastante simpático e extremamente bem-educado. Tudo bem que é frequente matar pessoas e cortá-las aos bocados, mas sou menos simpático por causa disso? Não creio! Sempre que as desmembro, e mesmo antes do assassínio propriamente dito, fá-lo educadamente. Peço sempre licença antes de começar. O que mais me indigna é a questão da sensibilidade. depois de mortas, pergunto-lhes educadamente se o posso fazer. E era injusto dizerem que sou insensível. Mas nunca mais o fizeram. Matei-os todos. Mais vos digo, se tenho prazer em matar, ou seja, demonstrei um sentimento, como posso ser insensível?

Mas vamos ao que interessa: a taxidermia exótica. E o que é? Um hobby e como qualquer pessoa, tenho hobbies, actividades que gosto de praticar. E depois sou insensível!? “Pois! Gostas de matar pessoas!” Nada disso! A psicopatia não é um hobby, é forma de estar perante a vida e a morte dos outros. Vejam isso como uma tarefa diária que se assemelha ao trabalho de Satanás. No Inferno, ele castiga os pecadores diariamente, mas é um trabalho. Ele gosta? Muito provavelmente. Mas o seu verdadeiro hobby é possuir virgens. O meu hobby é outro. Se sou apreciador de emposse casto? Claro! Quem não gosta de um bom filme de terror onde há sangue a jorrar por todo o lado? E tal como nesse tipo de cinematografia, o sangue está presente no passatempo do fim da inocência feminina. há menos sangue, ou melhor, está mais localizado, mas há. Mas como a virgindade é algo tão precocemente perdido, as virgens são difíceis de encontrar, são raras, e se é para apanhar raridades, prefiro apanhar pokémons.

Eu sei que ainda não vos esclareci sobre a taxidermia exótica, mas já lá vou. Sou muito simpático, como vos disse há pouco, mas não gosto nada de ser pressionado fico logo todo enervado e depois faço coisas. E quando faço coisas, as pessoas gritam. E quando gritam temos de cortá-las e pô-las num saco e eu não quero isso. Já não tenho sacos. O que me lembra aquela vez em que me perdi no meio do mato e encontrei aquele imigrante ilegal, o Jesus. Mal o vi pensei: “Tens ar de quem chegou a Portugal via contentor!” E não é que eu tinha razão! Não tenho nada contra imigrantes ilegais, mas acho que não custa nada ser educado. Havia necessidade daquela gritaria toda quando lhe pedi as horas? Claro que não! É verdade que eu estava cheio de sangue, mas mesmo assim. Percebi depois que ele não tinha relógio. Podia ter dito logo. É obvio que não crucifiquei Jesus por não ter horas, mas gritou e quando gritam…

Antes que haja gritaria e que tenha de ir comprar mais sacos, vou passar a explicar o conceito de taxidermia exótica e como surgiu essa paixão. Para quem não sabe, a taxidermia é a arte de empalhar animais mortos e certamente já ouviram falar em bailarinas exóticas. Exóticas! Certo?! Agora imaginam o vosso mais querido urso de pelúcia e como gostam dele. Tanto que na sua presença sentem um desejo carnal inegável. Só que ele não é de carne é de peluche. A taxidermia exótica é isso, mas em mais desagradável. Não se esqueçam que não é que algodão que animal tem por dentro. É palha. E a palha arranha! Se calhar vou parecer estranho, mas a verdade, é que sempre tive um relacionamento profundo com a natureza. Mas como as ovelhas estavam sempre a mexer e fugir comecei a mata-las para facilitar a coisa. Mas depois fui viver para a cidade e perdi esse toque natural. O meu gosto pela taxidermia só surgiu mais tarde, quando o meu gato Buda morreu.

Eu adorava o meu gato, mas aconteceu o que acontece a todos os gatos, o inevitável destino felino: calçar uma roda. Por vezes variam e calçam para-choques, mas o resultado é sempre o mesmo. Morte certa. Eu já sabia que isso iria aconteceu mais tarde ou mais cedo. Se podia ter evitado a desgraça? Talvez! Mas a estrada que chamo carinhosamente, Maomé não teve piedade do meu gatinho. Porquê Maomé? Porque rebenta com os gatos todos. Tecnicamente são os carros, mas se houvesse estrada, também não haveria carros, por isso. Quando o Buda morreu não consegui enterra-lo. Eu gostava tanto dele que decidi ficar com ele para sempre e falei com um taxidermista para o imortalizar. Quando vi o Buda empalhado, percebi logo o potencial da coisa. Eu não sou nenhum monstro não tive nada com ele. Mas a espécie de arca de Noé que tenho em casa não pode dizer o mesmo. Estão a gritar porquê? Quando as pessoas gritam…

Darth Parvor ©

quinta-feira, 6 de setembro de 2018

“Para inglês ver”

Significado: Para dar nas vistas, para mostrar o que não é. 

Nunca percebi essa ideia de fazer algo “para inglês ver”, mas para evitar problemas maiores, passei a viver sob a égide desse adágio. Se eu pudesse evitar qualquer tipo de tarefas, viveria num mundo perfeito. Aprecio muito o facto de não fazer nada, mas não é por preguiça, é porque não gosto de incomodar os outros. Incomodar? Como assim? É simples. Como é tão raro eu fazer algo, sempre que acontece, produz-se o chamado, “Efeito Acidente na Auto-Estrada da outra Faixa”, em que tudo para no sentido de perceber o que está a acontecer. Para evitar isso comecei a fazer coisas “para inglês ver”.

E o que é? É para mostrar o que não é. Isso todo sabemos. É praticamente impossível existir um fiscal internacional com essas características. Praticamente!? Mas se existir mesmo alguém da Grã-Bretanha, que possa chegar até aqui para ver o que estamos a fazer? Eu sei que a viagem de Inglaterra até aqui é um bocado longa. Se bem que se o inglês vier de avião, chega a Portugal num instantinho. Mas admitindo que o britânico incumbido do visionamento das nossas tarefas viesse a pé, quando chegasse junto de nós… Eu sei que ele poderia vir de carro, mas a sua chegada seria muito menos surpreendente.

Como assim menos surpreendente? Um carro faz barulho e sua aproximação é notada com mais facilidade e um espião tem de ser subtil. Poderia vir de bicicleta, mas só a manutenção da mesma seria demasiado dispendiosa. Resumindo a melhor opção seria vir a pé, mas vir a pé e como quem diz, para chegar a Portugal, terá de passar por Espanha e antes disso França. O que dificulta a viagem pedonal, visto que a travessia do Canal da Mancha é a única forma do amante de chá chegar junto dos amantes de baguetes. E para isso terá forçosamente de vir a nado. A não ser que ele caminha pelo Eurotúnel, mas caminhar sob rails parece-me perigoso. Será que vale mesmo a pena, tantos riscos, para ver o que um bando de portugueses estão a fazer?

E quando ele chegasse junto de nós, para além de chegar a tempo de ver a nossa inactividade, era provável que não entendesse nada daquilo que estaríamos a falar. Não me parece que os ingleses sejam fluentes em português. A não ser… A não ser que seja luso-descendente. Isso seria uma pontaria do catano. Mas não vamos complicar as coisas. Até agora, estava tudo tão simples e no domínio do acontecível. E acreditar que o espião tarefeiro seja luso-britânico parece incrível ao ponto de criar a ideia de eu ter escrito este texto somente “para inglês ver”.

O Cronista da Parvoíce © 2018

Os Parvos Anónimos

Nunca tive grandes dúvidas relativamente ao meu encanto. Eu sou encantador. Tenho dito.
Mas a verdade é que o género feminino não parece comigo. Estranho! Não percebo porquê! A minha avó sempre o disse. Tudo bem que não via bem e estava demente, mas mesmo assim. Uma avó nunca mente. Eu sei que as mulheres preferem homens com encantos faciais e, ou, físicos, ou até financeiros, mas sendo a minha parvoíce, o meu maior encanto, é parvo pensar que tenho encanto?

Será que tenho um problema por achar que a parvoeira é uma qualidade? E será que tenho de ser tratado? Mas porquê? Sou assim há tanto tempo! Não me digam que vou ter de me tratar e ir, outra vez, a uma dessas reuniões dos “anónimos”. Nunca gostei muito disso, corre-me sempre mal.

Quando fui aos A.A. (Alcoólicos Anónimos), ficaram chateados por eu me ter recusado em apresentar-me, mas se é anónimo, por que raio tenho de dizer o meu nome? Mas não foi só isso que os deixou zangados. Sentiram-se ofendidos por eu ter levado uma boa garrafa de vinho na minha primeira reunião. A boa educação manda levar uma prenda sempre que somos convidados e foi o que fiz. Depois de ser apanhado embriagado pela décima quarta vez consecutiva, a polícia convidou-me, entre outras coisas, a frequentar as tais reuniões. Aconteceu-me uma coisa do género quando fui expulso dos P.A. (Pornófilos Anónimos). Era a minha vez de levar um filme da Disney e levei o meu favorito: “Branca de Neve e os Sete Matulões.” Sabia lá que não é um filme da Disney!

Para resolver o meu problema, e deixar de ser parvo uma vez por todas, decidi ir a uma reunião dos Parvos Anónimos e mal entrei na sala, percebi que estava a fazer figura de parvo. Não estava mais ninguém. A sala tinha apenas uma cadeira com um espelho em frente, mas ainda bem, assim não me senti sozinho. Podem não acreditar, mas para mim fez todo o sentido estar sozinho. Um verdadeiro parvo não tem como negar a sua parvoíce inerente e dificilmente consegue manter o anonimato.

Sentado sozinho na sala de reunião, e farto de estar a falar sozinho, comecei a ler os cartazes espalhados pelas paredes e achei um particularmente interessante. Sabiam que PARVO é na verdade o acrónimo da frase que a auto-defina os parvos, alguém é parva Porque Assim Ratifica a Verdade Oblíqua”. Uma pergunta: “O que é verdade obliqua?” E se há uma verdade oblíqua, será que exista uma horizontal ou vertical? Ao tentar perceber essas verdades, percebi algo inegável. Sou mesmo parvo e não tenho cura!

O Cronista da Parvoíce ©