quinta-feira, 6 de setembro de 2018

Os Parvos Anónimos

Nunca tive grandes dúvidas relativamente ao meu encanto. Eu sou encantador. Tenho dito.
Mas a verdade é que o género feminino não parece comigo. Estranho! Não percebo porquê! A minha avó sempre o disse. Tudo bem que não via bem e estava demente, mas mesmo assim. Uma avó nunca mente. Eu sei que as mulheres preferem homens com encantos faciais e, ou, físicos, ou até financeiros, mas sendo a minha parvoíce, o meu maior encanto, é parvo pensar que tenho encanto?

Será que tenho um problema por achar que a parvoeira é uma qualidade? E será que tenho de ser tratado? Mas porquê? Sou assim há tanto tempo! Não me digam que vou ter de me tratar e ir, outra vez, a uma dessas reuniões dos “anónimos”. Nunca gostei muito disso, corre-me sempre mal.

Quando fui aos A.A. (Alcoólicos Anónimos), ficaram chateados por eu me ter recusado em apresentar-me, mas se é anónimo, por que raio tenho de dizer o meu nome? Mas não foi só isso que os deixou zangados. Sentiram-se ofendidos por eu ter levado uma boa garrafa de vinho na minha primeira reunião. A boa educação manda levar uma prenda sempre que somos convidados e foi o que fiz. Depois de ser apanhado embriagado pela décima quarta vez consecutiva, a polícia convidou-me, entre outras coisas, a frequentar as tais reuniões. Aconteceu-me uma coisa do género quando fui expulso dos P.A. (Pornófilos Anónimos). Era a minha vez de levar um filme da Disney e levei o meu favorito: “Branca de Neve e os Sete Matulões.” Sabia lá que não é um filme da Disney!

Para resolver o meu problema, e deixar de ser parvo uma vez por todas, decidi ir a uma reunião dos Parvos Anónimos e mal entrei na sala, percebi que estava a fazer figura de parvo. Não estava mais ninguém. A sala tinha apenas uma cadeira com um espelho em frente, mas ainda bem, assim não me senti sozinho. Podem não acreditar, mas para mim fez todo o sentido estar sozinho. Um verdadeiro parvo não tem como negar a sua parvoíce inerente e dificilmente consegue manter o anonimato.

Sentado sozinho na sala de reunião, e farto de estar a falar sozinho, comecei a ler os cartazes espalhados pelas paredes e achei um particularmente interessante. Sabiam que PARVO é na verdade o acrónimo da frase que a auto-defina os parvos, alguém é parva Porque Assim Ratifica a Verdade Oblíqua”. Uma pergunta: “O que é verdade obliqua?” E se há uma verdade oblíqua, será que exista uma horizontal ou vertical? Ao tentar perceber essas verdades, percebi algo inegável. Sou mesmo parvo e não tenho cura!

O Cronista da Parvoíce ©

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