sábado, 2 de fevereiro de 2019

O Artista Fumegante

Desafio do Rita Cação 

Ponto de Partida: A teoria do vaping aquando não se se sabe fumar 

Palavras Impostas: Figas, fisgas, coiso daqueles, mimi e vaporizador.

Como verdadeiro artista que sou preciso de calma e tranquilidade para expressar a minha arte. É por isso que a minha relação é espectacular, enquanto ela trabalha arduamente, eu fico em casa a descansar o dia de todo. Melhor dizendo, fico num relaxamento profundo em busca dum momento inspirado. Nosso binómio, ela trabalha, eu não, estava a funcionar na perfeição até aquele fatídico dia. Nesse ela chega a casa e diz-me: “Môr! Isto não pode continuar assim! Eu amo-te, mas não posso ser a única a sustentar as necessidades económicas do nosso casal! Tens de trabalhar!” Tens de trabalhar!? Mas o quê isto? Ela entrou num estado delirante! Respirei fundo, pousei o comando da PS4 em plena partida, algo que raramente faço, e respondi-lhe: “Mas Mimi, eu sou um artista! Não posso trabalhar como qualquer pessoa! Sou frágil! Sensível! Um verdadeiro artista! Para além que recuso ceder a tentação de um salário frequente!”

Como a conversa não estava a correr ao meu jeito, ameacei ir-me embora para ver se ela me impedia e se voltava tudo a normalidade. Só que ela não me deteve e então fiquei. Só para chatear. Mas ela continuava com essa ideia absurda de eu ir trabalhar e o pior quando me fez uma pergunta, a pergunta assassina: “Tudo bem! és um artista! Nunca vi nenhuma obra tua! E afinal qual é a tua arte?” O quê? Como ousas questionar a minha artisticidade? Já com uma sensação de injustiça e um sentimento de revolta a apoderar-se de todo o meu ser, e fazendo figas para que não me interrompesse para não me ter de chatear, disse-lhe: “Então fofinha!? Já te disse que amo muito!? Sabes bem que sou um artista fumegante! Faço vaping…”

E não é que ela me interrompe: “Tu nem fumas! E estás sempre com aquela desculpa da treta que não podes fazer esforços porque és asmático!” Respirando a fundo, sem me esquecer de dar uma bombada no ventilador, só para reforçar o dramatismo, e relembrar-lhe que não só os esforços, como o stress me provocam falta de ar, disse-lhe: “Sim Amor! Tens razão! Não fumo! Daí ter comprado aquele vaporizador! Não seria muito inteligente da minha parte começar a fumar agora! Digo-te mais! Nem gosto!” Se bem que aquela amostra de tabaco, vinda de Amesterdão creio eu, que o rapaz da loja, chamou-me a parte e fez-me experimentar não era de todo desagradável. Aquilo deixo-me relaxado. E foi por isso que não me chateei com ela. Isso e o facto de estar na hora de ela fazer o jantar deixei-lhe ganhar a discussão. Não consigo pensar de barriga vazia e aquele cigarro estranho deixou-me com fome.

É verdade que a noite é boa conselheira, porque ao acordar constatei que a Mimi tinha razão e decidi fazer o que ela queria. E assim que sai de casa, fui em busca de inspiração para explanar a minha arte. Tenho quase a certeza que era isso que ela queria. só pode ser. Só disse que tinha de arranjar um emprego porque não sou um verdadeiro artista, está a querer que lhe demonstre o contrário. Não quer que trabalhe mesmo? Pois não? Nesse sentido demonstrativo fui procurei os maiores centros fumegantes e para me inspirar visitei várias churrasqueiras. Vendo que essas visitas estavam a ser infrutíferas, decidi visitar novamente o rapaz da loja, decerto que deve conhecer outros artistas dos fumos. E não é que me ajudou imenso e nem sequer foi preciso muito. Dei um bafo naquele cigarro estranho e vi logo o mundo doutra forma. Fiquei logo nas nuvens, ou melhor a olhar para as nuvens, e entender a sua origem. As nuvens são apenas e só uma obra de arte, de vaping, só que o vaporizador é um coiso daqueles. Deve ser bem grande. Também percebi que tinha ficado com mais fome e voltei às churrasqueiras para ir buscar uns frangos.

Só que passando uns dias e sem vendo resultados práticos na minha arte fumegante, decidi que era melhor mudar de arte. Primeiro pensei em tornar-me profissional na confecção de fisgas invisíveis. Não seria muito complicado, já tinha muita pratica, sempre que estava com o rapaz da loja e depois de fumarmos, fazíamos muitas. O problema é que tive de mudar de ideias e confesso que não foi uma decisão fácil, mas com prisão do rapaz tornou-se impossível. Disseram-me que foi preso por erva em casa. Não sabia que é obrigatório deservar as casas, ou que era proibido ter plantações de especiarias pela casa, o que pelo que consta, era o caso dele. Não percebo como se pode prender pessoas tão atenciosas com os clientes. Para alem disso fiquei com uma dívida enorme na churrasqueira e tive de começar a trabalhar para pagá-la. Quem ficou contente com isto tudo foi a Mimi, mas ela está muita enganada se pensa que vou abandonar a veia artística. No novo trabalho, lá na churrasqueira, sou um verdadeiro artista a virar frangos.

O Cronista da Parvoíce © 2019