sábado, 30 de janeiro de 2016

Parvoíces do Ano Novo (5)

Na noite do final do ano, Renato embebeda-se, dorme na praia e quando acorda, percebe que lhe roubaram o relógio. No dia seguinte, ao andar pela rua, vê um homem usando o seu relógio. Aproxima-se dele e diz:
- Ei, esse relógio é meu!
- Não é nada seu - responde o ladrão - Roubei este relógio a um bêbado que eu comi ontem lá na praia.
- Tem razão, não é meu! Mas que parece, parece!!!

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

A Parvoíce Ocupacional


“Não pedi nada demais para não confundir Deus que à meia-noite de ano novo está tão ocupado”
Clarice Lispector

sábado, 23 de janeiro de 2016

Parvoíces do Ano Novo #4

Um gajo desaparece na noite de Ano Novo, chega a casa de manhã cedo e, dando de cara com sua mulher, muito atrapalhado, diz:
- Vê, querida, a violência está cada vez pior! Até as mulheres estão a assaltar! Três delas me pegaram na praia, me deram um enxerto de porrada, levaram meu relógio, e roubaram a minha carteira…
A esposa fica mais fula ainda, ao ver que, por debaixo das calças, não há nada:
- Ah, ééééé… E onde estão os seus boxers?
E o gajo:
- Socorro! Socorro! Também roubaram os meus boxers! Também roubaram os meus boxers!

quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

A.P.B.E.E. (Associação para a Promoção do Bem-Estar dos Envelopes)

Deveriam ser todos como eu e estar constantemente preocupados com o bem-estar de tudo e todos. Principalmente daqueles que sofrem em silêncio e que permanecem inabaláveis apesar das adversidades. Sempre que choco contra um guarda-fatos peço lhe desculpa. Sim! Sou uma pessoa educada. “Peço imensa desculpa, ir contra si, não foi de todo a minha intenção! Está tudo bem?” E se pensavam que ele ia rebelar-se ou insultar-me, estão bem enganados. Como era expectável, age com uma tremenda grandeza, mas como é um guarda-fatos tem de ser grande para, como o nome indica, guardar fatos.

Sair em defesa do mobiliário é fácil, a sua resistência às adversidades é maior, a não ser que sejam fogo ou caruncho. Mas defender envelopes indefesos não é para todos. Indefesos é como quem diz. Uma vez cortei-me num envelope e tive de ir para o hospital. Eu não suporto ver sangue desmaio logo. O meu internamento surgiu naquele trágico dia… Acho que era uma segunda, ou será que era uma terça? Ou quinta? Era um dia de semana, e ao abrir uma carta, cortei-me.

Não foi um corte profundo e nem sangrei, mas desfaleci só de imaginar que poderia estar a sangrar de forma copiosa. Foi um desfalecimento rápido, recuperei os sentidos ½ segundo depois. O problema é que escorreguei nas cartas que caíram aquando da minha perda de sentidos. Resultado: Vi que uma delas era uma convocatória para o hospital e fui.

Confesso que fui um pouco bruto e abri o envelope sem dó, nem piedade. Aí pensei: “Foste um pouco bruto e abriste o envelope sem dó, nem piedade”. E não pode ser, o pobre do envelope tem sentimentos. Não posso rasgá-lo todo assim, sem consentimento. É quase uma violação. Agora sempre que recebo uma carta, levo-a ao cinema e por vezes a jantar. Depois de uma noite bem passada, pergunto-lhe com modos: “Posso abrir-te toda?” Se ela não responder, está tudo bem, pois quem cala consente.

Foi por isso que criei a A.P.B.E.E. (Associação para a Promoção do Bem-Estar dos Envelopes), e enviei milhares de cartas a convidá-los a juntarem-se à causa. Só tenho um pedido. Antes de abrir o envelope, e se não der jeito pagar-lhe uma refeição, dêem-lhe pelo menos uma flor.

O Cronista da Parvoíce ©

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Um Mundo Gigantesco


Desafio da Sandrine Marques

Palavras Impostas: batatas fritas, complicómetro, ginásio, impressão e porrada.

Desde pequeno espero pelo dia em que tornar-me-ei grande. Mas tendo em conta a minha idade e o meu tamanho actual, tenho a impressão que esse dia não vai chegar. Todos teimam em dizer que não vou crescer, mas sei o milagre vai acontecer e um dia vou sentar a beira da cama e vou perceber a diferença de tamanho. Mas quando? Todas as manhãs acordo com a esperança da magia ter acontecido. “Fogo… Não consigo tocar o chão com os pés! Ainda não foi desta!”

Se eu soubesse o que sei hoje não teria comido tanta sopa. Os milhares de litros que ingeri não me potenciaram um tamanho mais imponente. Sinto-me enganado e pelos meus pais! Como puderam!? Afinal não se pode confiar nos crescidos. Devia é ter comido batatas fritas em vez de sopa. Mas visto bem, foi melhor assim, é que para além de baixo também seria gordo e não sei se as idas ao ginásio me ajudariam verdadeiramente.

Ser baixo tem certas vantagens, nomeadamente no que toca à porrada. Os meus adversários têm sempre dificuldade em me acertar e não é por ser um lutador à altura. Já perceberam que a altura não é a minha principal qualidade. A verdade é que na hora de lutar, eu desapareço como por magia, alguns acham que sou muito rápido, outros que tenho o dom da invisibilidade. Mas não é nada disso. Acontece que tenho de relembrar a minha posição, é frequente o meu opositor perder-me de vista. “Estou aqui!” “Onde?” “Olha para baixo!”

Eu não sou muito de lutas e não é só por medo das lesões que o meu adversário me possa infligir. Eu tenho medo é daquilo que possa acontecer, se eu decidir combater a sério. É provável que acabe o combate com um torci-colo e uma distensão muscular de tanto olhar para cima e querer acertar-lhe com um murro. Eu tenho um problema, não usar a tradicional e muito máscula técnica da cabeçada. Tendencialmente quando cabeceio alguém, não acerto na cana do nariz, mas na cana mais abaixo. E isso não é muito viril!

Já me perguntaram como é ver o mundo quando é ver o mundo quando se tem apenas 1 metro e 50. Eu respondo sempre: “Depende!” “Depende de quê? Lá estás tu a ligar o complicómetro!” “Nada disso! Depende se há muita gente quando quero ver o mundo. Se estiver num sítio muito lotado, o que vejo mais é pernas!”.

Acredito que quanto mais pequeno, mais a qualidade está concentrada, um pouco como o Fairy. Tenho mais qualidade, mais o mundo não deixa de ser gigantesco, cabe-me demonstrar que a altura não é sinonima de grandeza.

O Cronista da Parvoíce © 2016

terça-feira, 19 de janeiro de 2016

A Parvoíce Destrutiva


“Não adianta dar-lhes um Ano Novo! Não vão tardar a parti-lo”

Mafalda (Quino)

sábado, 16 de janeiro de 2016

Parvoíces do Ano Novo #3

Um pai de família judaica chama seu filho, na antevéspera do Ano Novo de sua religião e diz-lhe:
- Joãozinho, eu odeio ter que estragar teu dia, mas tenho que dizer-lhe que sua mãe e eu vamos nos divorciar, depois de 45 anos de convivência.
- Pai, o que estás a dizer?! – grita o filho.
- Não conseguimos mais olhar-nos um ao outro – disse o pai, e completou: – Vamos nos separar e acabou. Ligue para tua irmã Raquel e conta-lhe.
Desvairado, o rapaz liga para a irmã, a qual explode no telefone.
- De jeito nenhum meus pais se irão divorciar! Chame o Pai ao telefone!
Quando o velho atendeu, ela disse, gritando:
- Não façam nada até nós chegarmos aí, amanhã. Eu vou ligar para o Carlos que está em viagem, e amanhã mesmo estaremos aí, ouviste? – e bateu o telefone sem deixar o pai responder nada.
O velho colocou o telefone no gancho, virou-se para a mulher e sorridente disse:
- Ok Sara, eles virão para o Ano Novo e não teremos que pagar os bilhetes!

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

P.E.P.S.I. (Pessoas que Enfrentam Porrada e não Sabem Igualá-la)

Nunca gostei de violência. Sempre achei mais seguro evitar conflitos físicos. Principalmente se sou o alvo desses conflitos. Quando aparecem problemas desse género, tenho por hábito desaparecer. Eu não tenho receio em admiti-lo: sou conservador e gosto do meu Feng Shui facial assim como está. Creio que uma perda de dentes, a coloração súbita de um dos meus olhos, ou mesmo um aumento nasal iriam prejudicá-lo.

Eu sou sincero, eu evito mesmo qualquer tipo de briga. Se é para lutar, então tem de ser para ganhar e com os meus handicaps naturais é muito difícil. Sou baixinho e uso óculos. Existe aquela velha máxima “luta com alguém do mesmo tamanho”, mas aí, teria de procurar adversários no 1º ciclo. Como disse há pouco, o uso de óculos reduz substancialmente a minha capacidade combativa, mesmo que os tirasse para lutar, porque “não se deve bater em alguém de óculos”, o resultado do combate seria bastante óbvio: baixo e sem ver um boi, não me parece que eu teria grandes hipóteses.

E se a minha namorada for importunada por alguém? Não vou defendê-la? Claro que vou! Só que nestes casos só existe um resultado possível: a vitória. Porque se levar no focinho, é provável que fique sem namorada e acabe com uma estadia no hospital. Com todas as minhas condicionantes, o sucesso não me parece alcançável. Para evitar uma rotura emocional e também do sobrolho, decidi que era melhor não namorar. Mais vale prevenir do que remediar.

Eu sempre fui mais C.O.C.A.C.O.L.A., alguém com Compreensão Óbvia da Capacidade Adversária Caracterizada pela Obtenção de Lesões Agravadas, mas nisso da porrada, sou mais P.E.P.S.I., enfim, uma Pessoa que Enfrenta Porrada e não Sabe Igualá-la, alguém cujo desfecho é irremediavelmente levar no focinho. E é por isso que sempre que posso associo-me aos P.E.P.S.I.’s e tento sempre dissuadi-los quando estes pseudo Davides querem derrubar verdadeiros Golias.

Tenho um amigo que é um autêntico P.E.P.S.I. e que mesmo assim gosta de meter-se com pessoas que não são do mesmo tamanho. Enquanto eu escolho pessoas mais pequenas, ele tem a tendência natural de confrontar adversário
s muito maiores do que ele. Da última vez que isso aconteceu, levou um banano e caiu para o lado. Adormeceu. Literalmente. E eu como amigo que sou, fui acordá-lo. Indignado, ele perguntou-me: “Porque é que não me foste ajudar?” Ao que respondi: “Tens uma lata! Ia lutar, levava também um banano e adormecia! E depois? Quem é que te acordava? Está aqui uma pessoa preocupada com o teu bem-estar, estás sempre a dizer que dormes demais e que isso não te faz bem, e é isto! Estou revoltado! Só não te bato porque és maior de que eu e tenho óculos”

A verdade é que sou mais C.O.C.A.C.O.L.A. Sei quando me devo retirar! Ser P.E.P.S.I. é demasiado arriscado.

O Cronista da Parvoíce ©



terça-feira, 12 de janeiro de 2016

A Parvoíce da Certeza


“Um optimista fica acordado até meia-noite para ver a entrada do ano novo. Um pessimista fica acordado para ter a certeza de que o ano velho se foi.”
Bill Vaughn

sábado, 9 de janeiro de 2016

Parvoíces do Ano Novo #2

O sujeito tinha ido ao hospital visitar a sogra na véspera do Ano-Novo, que estava em estado grave. Quando regressa a casa, a esposa, muito preocupada, pergunta:
- E então, querido? Como está mãe está?
- Está ótima! Com uma saúde de ferro! Ainda vai viver por muitos anos! Na semana que vem ela vai receber alta do hospital e vai vir morar com a gente, para sempre!
- Nossa, que maravilha! – diz a esposa – Mas isso é muito estranho, querido… Ontem mesmo ela parecia estar no seu leito de morte, os médicos diziam que ela deveria ter poucos dias de vida e não passaria o Ano Novo connosco!
- Bom, eu não sei como ela estava ontem – respondeu ele – Mas hoje quando eu cheguei no hospital o médico disse-me logo que nos deveríamos preparar para o pior!

quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

F.A. (Falaciosos Anónimos)

Eu sou como qualquer pessoa e tenho defeitos. Eu sei que é difícil de acreditar, mas não sou perfeito como todos pensam. Qual é esse defeito? Sou muito criativo, invento muito. Há quem diga que eu sou um mentiroso compulsivo. É uma forma de ver as coisas e talvez haja uma pitada de compulsividade na minha criatividade. Mas… Mas daí ser um mentiroso compulsivo.


É verdade que sempre inventei histórias mirabolantes e com um “je ne sais quoi” de parvoíce, mas isso faz de mim um mentiroso? Se calhar sou mesmo! Devo assumir a minha intrujice natural e caminhar para a verdade? É isso! Está decidido! Vou frequentar aquela associação dos Falaciosos Anónimos e resolver o meu problema.

O nome é Marco e tenho um problema. É mais forte do que eu e não consigo evitá-lo. Minto por tudo e por nada! É inato! Não é bem inato, não comecei a mentir logo à nascença. Primeiro, porque não tinha razões para isso, mas também porque não sabia falar e logo as minhas mentiras seriam inaudíveis. Não me iria dar a esse trabalho, inventar uma história para ninguém ouvir, não parece algo muito proveitoso. E a mentira tem forçosamente de ser proveitosa. Quando minto é sempre na procura de um bem maior: a minha defesa.


A falácia é a forma árdil que uso para minimizar qualquer problema que posso vir a enfrentar. Como a ira divina. Eu sei que não é suposto pecarmos, mas os pecados acontecem. “shit happens”. É inevitável! A nossa sorte é que podemos evitar a fúria dos céus e manter o nosso livre-trânsito para o paraíso com uma simples confissão e eu sou mestre em limpar o meu cadastro celestial. Mesmo que tenha cometido imensos pecados, digo apenas que minto e assim a mentira durante a confissão cobre a omissão doutras asneiras. Sou mesmo esperto!

As mentiras como justificação de atrasos são muito recorrentes. Eu uso-as frequentemente. Pronto não vou mentir (para variar) uso esse tipo de desculpas diariamente. Há quem consiga dizer a verdade e justificar-se de forma honesta. Eu não tenho essa capacidade. Mentir é muito mais fácil.

Da última vez, hoje de manhã, o atraso aconteceu porque estava eu em plena autoestrada quando percebo que está um animal a cavalgar no meio da via e quando ele passa por mim a toda a velocidade, constato que é um camelo. Pouco depois dessa passagem repentina vejo uma criança a correr no meio da via, como se perseguisse o animal. Como essa perseguição pareceu-me perigosa agarrei a criança, que afinal era um anão. Ainda bem porque tive para o meter no carro e poderia ter sido acusado de rapto de menor ou pior até. O anão, na realidade dono do camelo, que por sua vez é um dromedário visto que tinha uma bossa, estava a tentar recuperar o seu animal.

Eu ajudei a recuperá-lo e foi por isso que me atrasei 5 minutos. Eu achei a minha justificação foi muito credível, não sei como descobriram que era falsa. Já percebi a falha. Eu nunca passo pela autoestrada para vir trabalhar.

Talvez tenha mesmo de frequentar as reuniões dos F.A., o que acham?

O Cronista da Parvoíce ©






terça-feira, 5 de janeiro de 2016

A Parvoíce do Recomeço


“Bendito quem inventou o belo truque do calendário, pois o bom da segunda-feira, do dia 1º do mês e de cada ano novo é que nos dão a impressão de que a vida não continua, mas apenas recomeça...”
Mário Quintana

sábado, 2 de janeiro de 2016

Parvoíces do Ano Novo

Um sujeito resolve levar a sua mulher para jantar na noite de Ano Novo. Após serem atendidos pelo empregado, a mulher diz:
- Amor estás a ver aquele senhor ali naquela mesa, a encharcar-se de uísque?
- Estou, e daí? Conheces?
- É o meu ex-marido! Eu me separei dele há cinco anos e até hoje ele não conseguiu parar de beber!
E o sujeito:
- Não digas uma asneira dessas! Ninguém consegue comemorar tanto tempo assim!