quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Um Mundo Gigantesco


Desafio da Sandrine Marques

Palavras Impostas: batatas fritas, complicómetro, ginásio, impressão e porrada.

Desde pequeno espero pelo dia em que tornar-me-ei grande. Mas tendo em conta a minha idade e o meu tamanho actual, tenho a impressão que esse dia não vai chegar. Todos teimam em dizer que não vou crescer, mas sei o milagre vai acontecer e um dia vou sentar a beira da cama e vou perceber a diferença de tamanho. Mas quando? Todas as manhãs acordo com a esperança da magia ter acontecido. “Fogo… Não consigo tocar o chão com os pés! Ainda não foi desta!”

Se eu soubesse o que sei hoje não teria comido tanta sopa. Os milhares de litros que ingeri não me potenciaram um tamanho mais imponente. Sinto-me enganado e pelos meus pais! Como puderam!? Afinal não se pode confiar nos crescidos. Devia é ter comido batatas fritas em vez de sopa. Mas visto bem, foi melhor assim, é que para além de baixo também seria gordo e não sei se as idas ao ginásio me ajudariam verdadeiramente.

Ser baixo tem certas vantagens, nomeadamente no que toca à porrada. Os meus adversários têm sempre dificuldade em me acertar e não é por ser um lutador à altura. Já perceberam que a altura não é a minha principal qualidade. A verdade é que na hora de lutar, eu desapareço como por magia, alguns acham que sou muito rápido, outros que tenho o dom da invisibilidade. Mas não é nada disso. Acontece que tenho de relembrar a minha posição, é frequente o meu opositor perder-me de vista. “Estou aqui!” “Onde?” “Olha para baixo!”

Eu não sou muito de lutas e não é só por medo das lesões que o meu adversário me possa infligir. Eu tenho medo é daquilo que possa acontecer, se eu decidir combater a sério. É provável que acabe o combate com um torci-colo e uma distensão muscular de tanto olhar para cima e querer acertar-lhe com um murro. Eu tenho um problema, não usar a tradicional e muito máscula técnica da cabeçada. Tendencialmente quando cabeceio alguém, não acerto na cana do nariz, mas na cana mais abaixo. E isso não é muito viril!

Já me perguntaram como é ver o mundo quando é ver o mundo quando se tem apenas 1 metro e 50. Eu respondo sempre: “Depende!” “Depende de quê? Lá estás tu a ligar o complicómetro!” “Nada disso! Depende se há muita gente quando quero ver o mundo. Se estiver num sítio muito lotado, o que vejo mais é pernas!”.

Acredito que quanto mais pequeno, mais a qualidade está concentrada, um pouco como o Fairy. Tenho mais qualidade, mais o mundo não deixa de ser gigantesco, cabe-me demonstrar que a altura não é sinonima de grandeza.

O Cronista da Parvoíce © 2016

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