Sair em defesa do mobiliário é fácil, a sua resistência às adversidades é maior, a não ser que sejam fogo ou caruncho. Mas defender envelopes indefesos não é para todos. Indefesos é como quem diz. Uma vez cortei-me num envelope e tive de ir para o hospital. Eu não suporto ver sangue desmaio logo. O meu internamento surgiu naquele trágico dia… Acho que era uma segunda, ou será que era uma terça? Ou quinta? Era um dia de semana, e ao abrir uma carta, cortei-me.
Não foi um corte profundo e nem sangrei, mas desfaleci só de imaginar que poderia estar a sangrar de forma copiosa. Foi um desfalecimento rápido, recuperei os sentidos ½ segundo depois. O problema é que escorreguei nas cartas que caíram aquando da minha perda de sentidos. Resultado: Vi que uma delas era uma convocatória para o hospital e fui.
Confesso que fui um pouco bruto e abri o envelope sem dó, nem piedade. Aí pensei: “Foste um pouco bruto e abriste o envelope sem dó, nem piedade”. E não pode ser, o pobre do envelope tem sentimentos. Não posso rasgá-lo todo assim, sem consentimento. É quase uma violação. Agora sempre que recebo uma carta, levo-a ao cinema e por vezes a jantar. Depois de uma noite bem passada, pergunto-lhe com modos: “Posso abrir-te toda?” Se ela não responder, está tudo bem, pois quem cala consente.
Foi por isso que criei a A.P.B.E.E. (Associação para a Promoção do Bem-Estar dos Envelopes), e enviei milhares de cartas a convidá-los a juntarem-se à causa. Só tenho um pedido. Antes de abrir o envelope, e se não der jeito pagar-lhe uma refeição, dêem-lhe pelo menos uma flor.
O Cronista da Parvoíce ©
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