quinta-feira, 6 de setembro de 2018

“Para inglês ver”

Significado: Para dar nas vistas, para mostrar o que não é. 

Nunca percebi essa ideia de fazer algo “para inglês ver”, mas para evitar problemas maiores, passei a viver sob a égide desse adágio. Se eu pudesse evitar qualquer tipo de tarefas, viveria num mundo perfeito. Aprecio muito o facto de não fazer nada, mas não é por preguiça, é porque não gosto de incomodar os outros. Incomodar? Como assim? É simples. Como é tão raro eu fazer algo, sempre que acontece, produz-se o chamado, “Efeito Acidente na Auto-Estrada da outra Faixa”, em que tudo para no sentido de perceber o que está a acontecer. Para evitar isso comecei a fazer coisas “para inglês ver”.

E o que é? É para mostrar o que não é. Isso todo sabemos. É praticamente impossível existir um fiscal internacional com essas características. Praticamente!? Mas se existir mesmo alguém da Grã-Bretanha, que possa chegar até aqui para ver o que estamos a fazer? Eu sei que a viagem de Inglaterra até aqui é um bocado longa. Se bem que se o inglês vier de avião, chega a Portugal num instantinho. Mas admitindo que o britânico incumbido do visionamento das nossas tarefas viesse a pé, quando chegasse junto de nós… Eu sei que ele poderia vir de carro, mas a sua chegada seria muito menos surpreendente.

Como assim menos surpreendente? Um carro faz barulho e sua aproximação é notada com mais facilidade e um espião tem de ser subtil. Poderia vir de bicicleta, mas só a manutenção da mesma seria demasiado dispendiosa. Resumindo a melhor opção seria vir a pé, mas vir a pé e como quem diz, para chegar a Portugal, terá de passar por Espanha e antes disso França. O que dificulta a viagem pedonal, visto que a travessia do Canal da Mancha é a única forma do amante de chá chegar junto dos amantes de baguetes. E para isso terá forçosamente de vir a nado. A não ser que ele caminha pelo Eurotúnel, mas caminhar sob rails parece-me perigoso. Será que vale mesmo a pena, tantos riscos, para ver o que um bando de portugueses estão a fazer?

E quando ele chegasse junto de nós, para além de chegar a tempo de ver a nossa inactividade, era provável que não entendesse nada daquilo que estaríamos a falar. Não me parece que os ingleses sejam fluentes em português. A não ser… A não ser que seja luso-descendente. Isso seria uma pontaria do catano. Mas não vamos complicar as coisas. Até agora, estava tudo tão simples e no domínio do acontecível. E acreditar que o espião tarefeiro seja luso-britânico parece incrível ao ponto de criar a ideia de eu ter escrito este texto somente “para inglês ver”.

O Cronista da Parvoíce © 2018

Sem comentários:

Enviar um comentário