A forma como iniciamos o dia é
fundamental para o decorrer do mesmo. Dizem que o pequeno-almoço é a refeição
mais importante do dia e não duvido. Conheço uma enfermeira que vaticina que
iniciar o dia com uma refeição equilibrada em pão e água só pode ser benéfica e
até pode salvar vidas. Por outras palavras, se começar o dia com essa
alimentação específica, eu posso tornar me num herói. Daqueles que salvam bebés
quando caem do 5º andar.
Confesso que esta história heroico-alimentar
me deixou com várias dúvidas, e com perguntas por sinal bastante pertinentes:
“Sempre que o meu pequeno-almoço tiver uma incidência aguada e panificada tenho
de rondar os prédios todos para evitar a queda de bebés? Ou só aqueles que têm
5 ou mais andares? Se ele cair do 1º andar? Tem de ser salvo?”
É óbvio que o bebé tem de ser
salvo, quer vindo do 5º ou 1º andar, mas no segundo caso parece-me muito menos
heróico. Há muito menos dramatismo e suspense. É mais uma questão de reflexos. Existe
até uma norma no manual de “Heroísmo Urbano”, o art.45 secção b: “qualquer salvamento
de bebés, com uma queda inferior ao 4º andar, não é considera heróica”. A
comunidade não nutriria de qualquer reconhecimento ou valorização do esforço.
Seria como uma nódoa impossível de sair do cadastro de um herói. Salvar aquele
bebé seria o mesmo que salvar uma cortadora de relva.
E digamos que salvar uma criança,
proporcionar-me-á um grande sentido de reconhecimento/admiração vindo dos pais.
Num gesto de profundo agradecimento a mãe, a irmã, a tia ou a prima podem estar
tentadas a faze-lo de uma forma mais intensa. Obviamente eu recusaria tal
gesto, dependendo da morfologia das mesmas. Agora se eu salvo o cortador de
relva? O que me vai acontecer? Não me parece que esse salvamento não seja muito
proveitoso, quer a nível físico (aquelas coisas pesam), quer nível pessoal.
Será que posso confiar nalguém que vive num apartamento e mesmo assim tem um
cortador de relva?
Isto tudo para dizer o quê?
Simplesmente que aquela enfermeira tinha razão. Numa manhã, depois de ter sido
apanhado em flagrante a olhar para um decote onde não devia. O namorado da
jovem espetou-me um papo-seco (pão) nos ventres e cuspiu-me (água) para a cara.
Comi e calei. Para os compensar, e como ainda não estou restabelecido do meu
entorse no pulso, dei-lhes duas caixas de preservativos que acabara de comprar.
Evitando assim que tenham, para já, bebés. Assim a criança não nascida não
arrisca-se a cair de qualquer andar.
O Cronista da Parvoíce © 2014
Nota: Este tema foi tramadíssimo e confesso que tive uma
tremenda dificuldade em escrever algo de jeito, de tal forma que fiquei 2 dias
perante uma folha que persistia em ficar em branco. E depois lembrei-me:
“Porque é que não vais buscar uma caneta?” “E porque não fazer diretamente no
PC?” “E que tal comprar um PC?” “Quando tiver o PC talvez seja melhor pagar a
luz!”
E assim respondi ao
desafio do Bruno Ferreira
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