quinta-feira, 26 de junho de 2014

As Potencialidades do Potencial

Em todos os países, existe aquela pergunta, inequivocamente estúpida, mas que define a nação. Em França, questiona-se o propósito do bidé. Em que estava o gajo que o inventou aquele utensílio sanitário? Qual é a sua verdadeira finalidade? Foi concebido para lavar os pés? Outra coisa? Ou foi criado para albergar os dejectos estomacais de uma noite de bebedeira, quando a sanita e o lavatório estão ocupados por outros? Nos Países Baixos, discute-se qual é a melhor flora para símbolo nacional? A tulipa? O cannabis? Em Portugal, debate-se a questão do potencial.
 
Em Portugal, quando proclamamos que alguém tem potencial, é a morte do artista. Estamos a dizer, que num futuro mais ou menos próximo, vai tornar-se nalgo que não é. Falar do potencial dum individuo, é adornara inevitável e implacável verdade. Alguém com potencial é alguém a quem falta aquilo que é necessário. Uma besta com o potencial de ser bestial, mas uma besta na mesma.

Avaliar as potencialidades de um sujeito, é oferecer-lhe na hora da desgraça (as suas supostas qualidades acabam de ser trucidadas), uma saída honroso, uma hara-kiri motivacional. Morreu com a esperança de poder ser melhor. Mas morreu na mesma, e com a porcaria de uma katana espetada no ego, e não por nada mas é capaz de magoar um pouco.

Como qualquer português, nasci cheio de potencialidades. Poderia ter sido jogador de basquetebol se o meu potencial não tivesse estagnado no 1,63 m. Eu tinha tudo para atlético, mas os bolos, os doces, e muito provavelmente a cerveja travaram o meu potencial. O meu carro tinha todas as condições para ser um Porsche, tem 4 rodas, anda na estrada e consome 13 L aos 100 km/h, mas não é. Em suma, eu tinha o potencial para ser modelo e conduzir um carro topo de gama, mas sou um gajo baixinho, e gordinho e que conduz um carro todo quilhado (gasta gasolina como o catano!).

A Selecção Nacional está recheada de potencial, afinal aquilo é um conjunto de potenciais vencedores. Nunca vão ganhar nada. Em 2004, foi uma potencial vencedor, mas a Grécia é que ganhou. E desde daí a “Lei da Potencialidade” tem sido implacável Portugal. Ou Portugal tem sido benevolente com essa teoria, e não querendo refuta-la, tem continuado na sua senda de insucessos. Mas nada de aflições, pode ser que isto muda. Mal seja que com tanto potencial não aconteça.

O Cronista da Parvoíce © 2014

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