sábado, 31 de maio de 2014

Um Mundo Sem Piaçaba

Hoje acordei com uma sensação estranha. Algo mudara durante a noite e essa mudança era irreversível. Confesso que tive a secreta esperança que este amanhecer fosse o início de uma vida nova e que o tão ansiado D. Sebastião da Intimidade tinha finalmente chegado trazendo com ele firmeza e imponência. Mas quando olhei para debaixo dos lençóis, a verdade continuava diminuta. Enfim, uma verdadeira desilusão!

Ultrapassada a tristeza da estagnação dimensional do coiso, senti a ausência inexplicável de algumas memórias. É como se algumas informações primordiais para a minha sobrevivência me tivessem sido sonegadas. Por mais que me esforçasse não me conseguia lembrar. Faltava me algo e não sabia o quê.

Percorri a casa em busca de respostas, à medida que passava pelos quartos, cada um com sua decoração personalizada, apercebia-me que lhes faltava qualquer coisa. Um poster com gajas nuas? Um candeeiro para ver o poster a noite? Uma lâmpada para o candeeiro? Uma extensão para o mesmo? Não fazia a mínima ideia!

Quando cheguei a cozinha, senti um arrepio e realizei algo. Andar nu pela casa não é uma tão boa ideia como parece. Com o frio o meu objeto de estimação tende a minguar. Visto que o mundo hoje está estranho, com desaparecimentos e tudo, pode acontecer-lhe o mesmo. É melhor não arriscar.

Depois de me vestir, voltei a cozinha e estranhei o facto de o meu pequeno-almoço não estar preparado. Eu tinha quase a certeza que o iria encontrar feito. Será que alguém o costuma fazer? Ou tenho hábitos de caça? Então ainda bem que me vesti. Caçar nu não deve ser prático.

Foi quando o meu estômago apertou e tive de ir a casa de banho que a minha memória voltou. Depois de expelir o pior que há em mim e puxar o autoclismo, tive a necessidade de eliminar os vestígios da minha maldade interior. Era imperativo apagar a prova da minha putrefacta alma estomacal. Mas como fazê-lo? Pode lutar contar esse arqui-inimigo? Como destruir a passagem desta anaconda fecal?

Procurei em redor, e de repente, a resposta veio a mim. Não foi bem a resposta, foram mais náuseas. Estava um cheiro que não se podia. Mas depois veio mesmo. O piaçaba! Como me pude esquecer do piaçaba! E do nada reapareceu! Tal mosqueteiro do sanitário empunhei a minha espada piaçabica e lutei bravamente contra o malvado CóConde. É claro que o malvado não teve hipótese. Desde então ando sempre com o meu piaçaba embainhado a cintura. Já me lembro de mais algumas coisas, sei que não vivia sozinho aqui, mas não me consigo lembrar quem eram essas pessoas. Mas eram muito parecidas comigo!

O Cronista da Parvoíce © 2014

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