O português é uma língua tramadíssima com inúmeras expressões idiomáticas estranhíssimas e palavras complicadíssimas devido aos seus significados múltiplos. e sendo ele a nossa cabeça. Sem falar nas palavras com múltiplos sentidos. Temos o caso da palavra “caso”, que caso não sabiam, pode ser usada de diversas formas, podendo inclusive, e é caso para dizer, tornar-se num caso sério de desentendimento. e vão provavelmente ficar com cara de caso, quando vos contar a história da senhora que tinha um caso com o carteiro. E o marido chateado, e para se vingar, armadilhou a mota do sacana. Acção que virou caso de polícia. Era caso para tanto? Não acredito! Mas como não fazer caso?
E esse caso é apenas um em muitos. Eu gostava de ter estado presente quando decidiram atribuir os significados às palavras. Não estive presente, e por razoes óbvias, mas consigo imaginar as reuniões em essas atribuições ocorreram. Consigo regressar a um passado distante e visualizar os ilustres e intemporais, mas injustamente desconhecidos, Manuel de Sá Vasconcelos, o Manel, e Joaquim Nóbrega de Sousa, o Quim, empenhados nessa importantíssima tarefa. E como bons portugueses que são, estavam num tasco e obviamente embriagados quando o fizeram. Não podem ter sido doutra forma.
- Ooooooooooh Quim!
- Siiiim Manel! Onde está ele? Está aí?
- Acabei de ter umas ideias de génio!
- O génio da família não és tu! É o teu primo! O Luisinho Zaralho! Não o convidaste para vir cá ter connosco?
- Convidei, mas disse-me que tem de escrever um poema para o rei.
- Um poema? Sobre quê?
- Acho que é sobre os descobrimentos! Ele ficou chateado comigo porque, segundo ele, não percebia a importância que sua obra iria ter para língua portuguesa. E até teve a ousadia de dizer que não éramos criativos. Ele quer criatividade. E o que nós somos?
- Nóóóóós!
- Nós?! Devias ter dito: CRIATIVOS! Estás mesmo bêbado! Vamos dar-lhe tanta criatividade que... que... ele não tem olho para isto. Não tem olho para isto! Está boa!
- Não devias gozar com ele! Isso é bullying! Não se faz!
- Bu..quê? É para inventar palavras em português! Deixa-te de estrangeirismos!
Posso continuar com as minhas as ideias inovadoras? E vais dizer-me o que pensas delas? Como sabes a maçã vem da macieira, a pêra da pereira, a cereja da cerejeira, e assim sucessivamente. Seria espectável a oliveira dar…
- Não sei… Olivas?!
- Nada disso! Azeitonas! E esta fora de questão trocar oliveira por azeitoneira. É uma palavra sem glamour. Depois não digam que não sou criativo. Mas tenho mais ideias de onde essas vieram.
- Então?
- Lembras-te daquela tua invenção dos prefixos que invertem o significado das palavras?
- Sim, lembro! Como o “de-” ou “des-”! Confinar e desconfinar! Uma é antónima da outra!
- Confinar e desconfinar? O que é isso?
- Ainda não sei, mas essas palavras podem dar jeito!
- Ouve a minha ideia, como sabes falecer é morrer, agora desfalecer, que deveria ser o antónimo, nunca significara viver. Mais, e para complicar um pouco a coisa, quem desfalece pode vir a falecer. E depois não criativo! Zarolho do catano!
Vendo a quantidade absurda que palavras e expressões que temos, as noites no tasco devem ter sido longas.
O Cronista da Parvoíce © 2020
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