sábado, 6 de junho de 2020

A Praia (Versão Pandémica)

O Verão é sinonimo de sol, muito calor, e logo de praia. Eu sei que ainda estamos na Primavera, mas com a abertura da época balnear, uma espécie de antestreia veranil, é oficial: já me posso perder pelos areeiros. E a verdade é que me perco muito frequentemente, não por falta de sentido de orientação, mas por falta de visão. Sou míope. Sempre que vou a água, perco-me no regresso à toalha. Não tenho culpa. Está tudo desfocado. E o que me aflige mais nesse desfoque, é quando estou no mar, não consigo apreciar devidamente as curvas das moças que me rodeiam. Claro que tenho estratégias para solucionar esse handicap, como simular que fui arrastado por uma onda para me aproximar delas com, ou sem, ondas. 

Para ser franco, não sou grande adepto do areal, mas é indubitavelmente fundamental para um dos meus hobbies veranis favoritos: o apalpanço mental. É mais forte do que eu adoro olhar para as beldades que se desfilam sobre a areia. Eu sei que este meu assédio sexual, mesmo que mental é um comportamento reprovável, mas em minha defesa apenas uso a minha imaginação. Fora da minha mente é totalmente inofensivo. Outro ponto ao meu favor é que essa prática é mais activa quando estou escondido nas dunas munidos dos meus binóculos. Também acredito que não assusto ninguém com os meus binóculos da Patrulha Pata e a minha toalha dos Faísca McQueen. Acho eu?! 

Com a chegada do bicho, e regras impostas para o suster, as minhas práticas veranis vão sofrer um abalo tremendo. Antes disto tudo, fazia manhãs na praia e tardes nas dunas. Se todos respeitarem o distanciamento social, e imaginando uma quase certa enchente na praia, duvido muito que, à tarde, tenha um espacinho nas dunas, para uma observação puramente científica das beldades que frequentam as praias. Vou ser obrigado à estar o tempo todo no areal. Nada de dunas! E como disse, frequentar a areia, não é algo que aprecio totalmente, e isso de apesar de gostar das dádivas visuais que o areal me oferece. A verdade é que areia provoca-me uma comichão incrível e não é fácil seduzir alguém na praia, algo já me é difícil em tempo normal, dificulta-se ainda mais se estiver a coçar as virilhas e afins. Sem esquecer que detesto a sensação de parecer que fui fustigado por um ataque epilético sub-abominável  (há muito que os abdominais não moram por estes lados e passaram a ser abomináveis) e isso sempre que tento expelir os grãos de areia dos meus calções. A areia pertence ao areal, não aos meus calções. Ponto. 

Eu também gosto de jogar a bola, ou com raquetes, mas agora isso também está proibido. Não é que tenha muito jeito, mas bolas que eram atiradas inadvertidamente perto das jeitosas, eram uma boa desculpa para me aproximar delas. Disse que não tenho muito jeito, mas é preciso pontaria para me aproximar sem atingi-las. Confesso que uma vez, acertei numa, e não é que ganhei para o susto. Quando ela se levantou, fiquei com medo, primeiro porque era feia e depois, porque faltava-lhe dentes. Que grande bolada!  Pensei eu! Queres ver que vou ter de pagar o dentista! Mas espera! Acertei-lhe na coxa, não fui eu que fiz isso! Depois lembrei-me que lhe tinha acertado na coxa. Ela olhou para mim e perguntou-me e se a bola era minha, e como é óbvio, respondi que não e fui comprar outra. Esse tipo de aproximações é sempre uma roleta russa. Nunca sei o que vou encontrar, mas como não tenho os óculos, não tenho como fazer de outra forma. 

Tenho o receio que devido ao calor, e com as mentes derretidas pelo mesmo, ninguém respeite o distanciamento social, mas tenho uma solução para isso: vou andar todo nu. Assim tenho a certeza que não haverá aproximações e acredito, que vão manter-se todos à uma distância considerável de mim. Nunca ninguém aproxima de mim quando estou nu. Ninguém mesmo. Nenhuma mulher. Pensando bem é estranho. Será que… 

O Cronista da Parvoíce © 2020

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