quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Perdido no Areal

O Verão começou há pouco, e quando se proporciona a concordância entre a estação do ano e as condições climatéricas, inicia-se uma das minhas actividades menos favoritas do ano: ir a praia.

Nunca gostei dessa actividade estival e fico transtornado com a ideia do interior dos meus calções encher-se de areia. Detesto essa sensação, o facto de parecer que fui fustigado por um ataque epiléptico sub-abominável (há muito que os abdominais não moram por estes lados) sempre que isso acontece e tento expelir os grão de areia dos meus calções.
Apesar de todas as inconveniências balneares, e por vezes balear, quando dão a costa e permanecem deitadas na praia, não deixo de ir a praia. Confesso que o facto de o areal me presentear com beldades em biquíni (e com sorte, fazendo topless) é altamente motivador. Também pode ser uma fonte de distracção, como a semana passada quando perdi o meu sobrinho de 9 anos.

A semana passada, e para fazer um favor ao meu irmão, o meu sobrinho veio comigo. Quem estava muito preocupada era a minha mãe, não percebo porquê. Supostamente não sou responsável. Mal cheguei a praia, e depois de avistar umas quantas beldades, liguei-lhe. Só mesmo para lhe dar uma amostra da minha responsabilidade. “Olá Mãe! Já chegamos! Está um dia lindíssimo! A bandeira está verde e já nos instalamos nas toalhas. (…) Queres falar com ele!? Ok, eu passo-lhe o telefone… (Onde é que ele se meteu!???) Afinal não vai dar. Ele foi tomar um banho aquático. (…) Claro que não me esqueci das bóias! Tomaaaa! Quem é o irresponsável!? Não me esqueci mesmo! Estão aqui a minha frente! (…) Já falas com ele! Deixa o miúdo brincar!”

Assim do nada deixei de saber onde ele estava. Preocupadíssimo, depois de acabar de ler o jornal, fui a sua procura e fui perguntando se alguém o tinha visto. Foi assim que conheci a Vicky, uma loira lindíssima, e como eu, amante e praticante de topless. “Bom dia! Tudo bem? Está um bom dia praia! Está sol, o mar está calminho e ainda não me entrou areia nos calções. Por acaso não viste… Posso tratar-te por tu? (…) Não viste um miúdo que está provavelmente perdido? (…) Como ele é? Sei la… É o meu sobrinho. Só o vejo de vez em quando. Está como tu… Em topless e em boa forma… Mas sem bóias

. Peço desculpa… tenho de atender… O quê Mãe!? Estás preocupada!? Mas porquê? Até parece que não sou de confiança! Queres falar com ele? Mas ainda não o encontrei! (…) Não o perdi! Que ideia é essa? Ele está num encontro com a Vicky. Com isto tudo ela foi-se embora! Agora ele tá chateado e não quer falar contigo!”

O tempo passava e eu estava raladíssimo na esplanada, enquanto consumia minis e tremoços. A situação tornou-se insustentável, agarrei em mim e decidi avançar corajosamente e sem perder mais um minuto fui pedir o número à Vicky.

Como já se fazia tarde e queria regressar a casa para ver o jogo. Comecei a chama-lo: “ João! João! João! Onde estás? Aparece ou a Avó vai chatear me a cabeça! Já sabes como ela é! João! João! João Silva! João Silva!” João Silva! Há milhões de gajos com esse nome! Nunca vou encontra-lo. Mas porque é não seguiram a minha sugestão e não o chamaram Chewbacca. Era muito mais original. E com um pouco de sorte era capaz de responder a chamamentos alternativos como grunhidos.

“Ah… João! Estás aqui! Onde estiveste o dia todo? O que interessa é que estás aqui! Podemos ir embora! Só uma pergunta! O teu primo?” A minha irmã vai matar-me!


O Cronista da Parvoíce © 2014

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