Desafio da Carla Fernandes
Ponto de Partida: A domesticação do ser-humano através da televisão
O incrível foi o que aconteceu poucos minutos depois da avaria. Uma espécie de milagre aconteceu. Saí do sofá e dei os meus primeiros passos. A medida que dava mais passos, crescia em mim uma vontade aventureira. E descobri que a minha casa tinha mais divisões. Divisões em estavam pessoas diferentes. Numa delas estava aquele miúdo irritante que nunca me deixa ver os filmes sossegado. Achei estranho ele chamar-me pai, mas o mais curioso foi quando aquela senhora simpática me chamou querido. Tudo bem que me traz cervejas quando vejo a bola e trata das refeições, mas alto lá a confiança.
Depois da visita domiciliaria, decidi passear e ir para a rua. Ao sair de casa, o meu vizinho, e eu nem sabia que tinha vizinhos, fez me uma pergunta complexa. “Bom dia Vizinho! Hoje vai estar um lindo dia! Não acha?” Não sabendo como responder, sem poder ver a meteorologia era uma questão difícil, optei pela escolha mais segura. Usei o telefonema para um amigo. Pouco depois vi um rapazito na rua. Ele estava a tocar e a cantar, mas sem cadeiras a viram-se, como saber se ele é bom? Mesmo assim, disse lhe que iria ligar para que ele fique. Sabiam que há homens que pagam para dormirem com mulheres? Descobri isso durante o meu périplo. Será que eles nunca ouviram falar da Casa dos Segredos?
Aquele passeio foi interessante, mas preferindo o meu sofá, decidi ir comprar uma televisão nova. Confesso que não gostei muito do atendimento. Como bom cliente que sou, levei umas chouriças e outros enchidos da minha terra, e nem um “espectáculo” ouvi. Pior ainda. Acertei no preço da TV e mesmo assim tive de paga-la. E no final nem roda para girar, ou montra gigante para acertar. Por isso voltei para o meu sofá, mas por pouco tempo. O comando não tinha pilhas. De regresso a rua, encontrei o meu vizinho e as suas perguntas parvas. “Bom dia vizinho! Acha que hoje vai chover?” Depois de minutos de reflexão, usei a opção dos 50/50.
Por vezes, acho que tenho uma espécie de subserviência televisiva, é como se estivesse domesticado pela televisão. Não me parece! Farto-me de ver o Dr Phil e ele nunca falou disso, ou que isso possa acontecer. Nunca vi nenhum programa televisivo com essa temática, por isso só pode ser mentira. A televisão nunca me enganaria.
O Cronista da Parvoíce © 2018