“O meu clube estava à
beira do precipício, mas tomou a decisão correcta. Deu um passo em frente.”
João Pinto
Como qualquer português, nasci cheio de potencialidades. Poderia
ter sido jogador de basquetebol se o meu potencial não tivesse estagnado no
1,63 m. Eu tinha tudo para atlético, mas os bolos, os doces, e muito
provavelmente a cerveja travaram o meu potencial. O meu carro tinha todas as
condições para ser um Porsche, tem 4 rodas, anda na estrada e consome 13 L aos
100 km/h, mas não é. Em suma, eu tinha o potencial para ser modelo e conduzir
um carro topo de gama, mas sou um gajo baixinho, e gordinho e que conduz um
carro todo quilhado (gasta gasolina como o catano!).
Para além de ser um fantástico armazém para a comida, o
bigode é um símbolo nacional tão indispensável como a bandeira, o hino, o fado,
a mini e o tremoço. Verdadeiro pináculo da perfeição lusitana, ele revela-se através
da sua óbvia presença facial, mas também pela mensagem escondida no seu nome. O
bigode é a Benesse dos Imberbes que Garante a Obtenção de um Desígnio
Extraordinário. Em suma, este vocábulo
demonstra um destino bigodesco cheio
de grandeza.
Gostava de relembrar a todos os meus compatriotas, que os
tempos mais áureos da Selecção Nacional, o vice-campeonato europeu em 2004 e os
terceiro e quarto lugar no Mundial em 1966 e 2006, foram alcançados quando o
treinador ostentava um bigode. Quando em 1989 e 1991, um certo Carlos Queiroz
tinha um bigode e treinava a selecção júnior, levou a Selecção Portuguesa até
dois títulos mundiais. Vejam a como correu a ultima campanha mundialista com o
mesmo selecionador, mas desprovido de bigode. Nada bem!
Este desporto tem o poder estranhíssimo de cessar a nossa
racionalidade e atrofiar os nossos sentidos motores. No visionamento de um
jogo, ficamos em estado de letargia cognitiva, refletida pelo simples facto de
falarmos com um objecto inanimado, neste caso a televisão. Por muito que
gritamos “CHUTA!” PASSA A BOLA!” “OLHA PARA AQUELE LADO, ELE ESTÁ DESMARCADO!”
Ninguém acarreta as nossas ordens. Mas se resultasse? Se eles obedecessem? Não
me parece que fosse uma boa coisa. Com milhões de ordens contrárias, os
jogadores ficariam atrofiados (mais) e até estáticos. “Então Pá! Não te mexeste
porquê?” “Desculpa, mas tava um dizer chuta, o outro passa… Fiquei sem saber o
que fazer!”